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A voz do livro

Arahilda Gomes Alves
Publicado em 08/07/2022 às 18:40Atualizado em 18/12/2022 às 20:26
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Estantes benditas, sustentando livros, levando o povo a pensar, segundo cantou o poeta dos escravos e que deixou tesouros motivados na voz que pensava... Demais? Nunca! Os livros volumosos ou frágeis, bons tagarelas, oráculos predestinados, que falam pela boca de quem os leem, pelos olhos de quem os veem e pelo coração de quem os sentem. Pensamento, a tecer o livro em rica metástase de palavras ideadas, a se espalharem pelo mundo irrequieto da imaginação.

Palavra voz, sem estação de pouso, viajante incessantemente a carrear desejos recriando imagens e ampliando sonhos. Voz-palavra a formatar identidades, mágico e poderoso instrumento de compilação, abrindo caminhos sem fronteiras, acrescentando-se novos rostos aos que cria pelas estradas. Alma ambulante carreando chegadas e partidas sem pontos de encruzilhada. Às vezes, violam-no, mas rapidamente credenciam-no ao dileto criador, que o identifica na consanguínea genética de um estilo ricamente historiado da planta dos pés à copa das árvores de farta sementeira.

Sua voz se faz ouvir de norte a sul, na brisa que o vento açoita, esvoaçando entre florestas. No canto alegre das folhas verdejantemente esperançosas. Entre os rios que correm céleres para o mar. Entre montanhas ecoantes em serenatas de sons em onomatopeias. Nos cânticos das quatro estações harmônicas e produtivas de benesses entre sorrisos do coração.

Silêncio reflexivo! Não me faça moribundo. Entre nesse mundo fantástico das letras, proteja minha morada de insaciáveis espaços, alimente-me e contemple sonhos, abra-me em corolas de luz, borrife pelos caminhos do conhecimento cabeças pensantes, criando asas à imaginação. Deixe-se levar pela robustez das palavras saltitantes emergidas de campos arejados, rebuscando na euforia do prazer valores ainda capengantes da existência humana.

Sou campanário-refúgio na busca da palavra acoplando-se à forma na arquitetural imagem sonora. Estalo do estilo. Palavra-voz na dissipação do verbo fácil, deformante, preguiçoso, desleixado e apodrecido. Voz-palavra a jorrar experiência entre pedras e cascalhos, galhos secos, chão duro, lamacento, charqueado, calcário, arenoso e movediço a soterrar o ócio e a insensatez. Sou templo da palavra clara, policiada, distinta, correta, agradável, elegante e sensibilizadora. Palavra lembrada, proferida, achada e enriquecida. Palavra de estilo, sem cópias criando e recriando em meio às atenuantes do nascer, do crescer e do fazer saciando a sede do saber e do prazer. Palavra, chave de abertura do cotidiano sem ser metódico, do novo como vanguarda, do antigo sem ser ultrapassado. Palavra, onde a paz, a coragem, a solidariedade, a amizade, o sorriso franco, o interesse, a emulação, a pesquisa, o deleite, acionam cabeças e corações agigantando sentimentos nobres na valorização da própria vida. Reverencie-me como sacrossanto arauto da sapiência devastando ignorâncias, fraquezas, preconceitos!

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