Estantes benditas sustentando livros, levando o povo a pensar, segundo cantou o poeta dos escravos e que deixou tesouros motivados na voz que pensava... demais? Nunca!
Os livros volumosos ou frágeis, bons tagarelas, oráculos predestinados, que falam pela boca de quem os leem, pelos olhos de quem os veem e pelo coração de quem os sentem. Pensamento, a tecer o livro em rica metástase de palavras ideadas, a se espalharem pelo mundo irrequieto da imaginação.
Palavra-voz sem estação de pouso, viajante incessantemente a carrear desejos recriando imagens e ampliando sonhos. Voz-palavra a formatar identidades, mágico e poderoso instrumento de compilação, abrindo caminhos sem fronteiras, acrescentando-se novos rostos aos que cria pelas estradas.
Alma ambulante carreando chegadas e partidas sem pontos de encruzilhada. Às vezes, violam-no, mas rapidamente credenciam-no ao dileto criador, que o identifica na consanguínea genética de um estilo ricamente historiado da planta dos pés à copa das árvores de farta sementeira.
Silêncio reflexivo! Não me faça moribundo. Entre nesse mundo fantástico das letras, proteja minha morada de insaciáveis espaços, alimente-me e contemple sonhos, abra-me em corolas de luz, borrife pelos caminhos do conhecimento cabeças pensantes, criando asas à imaginação. Deixe-se levar pela robustez das palavras saltitantes emergidas de campos arejados, rebuscando na euforia do prazer valores ainda capengantes da existência humana.
Sou campanário-refúgio na busca da palavra acoplando-se à forma na arquitetural imagem sonora. Estalo do estilo. Palavra-voz na dissipação do verbo fácil, deformante, preguiçoso, desleixado e apodrecido. Voz-palavra a jorrar experiência entre pedras e cascalhos, galhos secos, chão duro, lamacento, charqueado, calcário, arenoso e movediço a soterrar o ócio e a insensatez.
Sou templo da palavra clara, policiada, distinta, correta, agradável, elegante e sensibilizadora. Palavra lembrada, proferida, achada e enriquecida. Palavra de estilo, sem cópias, criando e recriando em meio às atenuantes do nascer, do crescer e do fazer, saciando a sede do saber e do prazer. Palavra, chave de abertura do cotidiano sem ser metódico, do novo como vanguarda, do antigo sem ser ultrapassado. Palavra, onde a paz, a coragem, a solidariedade, a amizade, o sorriso franco, o interesse, a emulação, a pesquisa e o deleite acionam cabeças e corações agigantando sentimentos nobres na valorização da própria vida.
Reverencie-me como sacrossanto arauto da sapiência devastando ignorâncias, fraquezas, preconceitos.
Arahilda Gomes Alves