ARTICULISTAS

Além do horizonte, ecos em cantos

Arahilda Gomes Alves
Publicado em 18/06/2024 às 18:14
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Pode dar ideia, quase sempre, de um lugar em que nunca se alcança. Uma linha divisória entre o real e o inatingível. Como cantou Roberto Carlos “além do horizonte pode ter/Um lugar bonito pra viver em paz”...

Veio-me à baila o associar a um espaço transposto pelas linhas do tempo. Se pensarmos nessas folhas do tempo tais como as quatro estações, peça descritiva composta por Vivaldi, se nos atermos ao Inverno, chegar-se-á à análise assustadora de cordas frementes do cello envolvidas em sons graves e indescritíveis. Até os artistas, em minúcias, jogam um corolário tradutor de experientes mensagens de uma Arte, bastante existencial, resgatando a imagem desafiadora do viver. Elas refletem nas estações do ano, repito, tão bem desenhadas musicalmente pelo monge oitocentista. É o inverno frio, geada massacrando a relva, antes viçosa. É a carcaça de animais refestelando moscas e urubus, impiedosamente. São as ondas encapeladas trazendo à tona restos cadavéricos de abjeta matéria vomitada das ondas lacrimejantes   buscadas no horizonte perdido.                                          

Para os seres mortais, o que o passar dos anos mostra em desabalada carreira? A fuga de uma imagem em decadência vestida em negro véu, do sono que espreita temeroso, a passagem de mais um inverno sem verão, sem primavera nos findos dias outonais. Vêm atreladas ao tempo de colheita extemporânea ceifadas de imagens retorcidas provocadas pelo frio procedimento da inveja, da ambição e da injúria. Tentam rodopios de esperançoso porvir. Simulam podas reflorescendo corolas de um viço, talvez o último, pincelado das cores do arco-íris salpicando rastros de insana luminosidade. Assistem à aurora e o descambar do arrebol. Até que a noite em respingos de dor saúda a natureza lacrimosa.

Sonham com a eternidade. Talvez, além do horizonte, uma Pasárgada que o poeta cantou deixando ecos de esperança. Parte em desabalada corrida no encalço de brilho fácil, treinando nos palcos da vida o papel desbotado buscado nas cópias de um modelo suplantado no anti-horário do tempo.

Tornam-se fantoches, bailarinos de um palco improvisado, bonecos de trapo, pedaços de vida repartidos e leiloados na formatação de seres jogados à revelia da sorte, até que a morte, sorrateira, brincando de esconde-esconde, ceifa a um só golpe, a vida supostamente vivida. Sopro gelado das mortalhas em pesadelos empurrando a vida levada pelo vento.

E na despreocupação com o existir pincelado da maldade humana, que só diz “da boca para fora”, pensa o homem alcançar o bem ante “mea-culpa”, que se perdeu ao longo da estrada, que se foi, mais uma caminhada supostamente de novo ano empurrando o anterior, numa viagem fictícia, na busca da imagem da Paz!

Mas, acertadamente, veem com elas as muitas canções embaladas pelos ecos de boas festas. Vozes em canto ecoam nas salas de concertos e nas Catedrais. Até o fascínio do moderno Ópera Studio, organizado a tempo por amigos do Conservatório, mostrando a música lírica em acertado reduto de uma Escola de Música! Corações se aconchegam para além do horizonte. Vivas aos bons cantores de Uberaba. Vozes privilegiadas encantando com a Arte vocal o mais belo dos instrumentos, que acaricia alma e coração.

 Arahilda Gomes Alves

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