ARTICULISTAS

Amor com amor se paga?

Arahilda Gomes
Publicado em 14/06/2023 às 18:57
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Dizem que a Arte imita a vida. Outras vezes, a Vida imita a Arte. Vejamos alguns exemplos para ficarmos nos grandes casais que a História marcou, sendo o mais célebre o amor de Romeu e Julieta. Outros, como Otelo e Desdêmona, que a mata por ciúmes.

Em ambas, a morte espreita por paixões incontidas. Na convivência teatral da ópera verista “Il Pagliacci”, de Leoncavallo, outra vez o ciúme se interpõe entre casais e, em representação, o personagem mata a própria esposa. Já na “Buterflay”, de Puccini, outra ópera verista, à base de fatos verdadeiros, a heroína se mata por saber que seu amado americano traz sua noiva para que ela a conheça. Do mesmo autor, em “La Bohème”, Mimi, também cortesã, ao travar conhecimento com Rodolfo, apresentam-se em doce conluio. Ela dizendo-se florista e ele vivendo da arte. Mas a heroína morre de tuberculose. Amores passionais que acontecem em cenas dramáticas e que a vida repete. Nas histórias musicadas de Verdi, há três maneiras em que se mostram o amor. No “Rigoletto”, o amor de pai é tão funesto, que trama a morte do Conde, supondo resolver o caso de amor entre ele, um incorrigível conquistador, com sua única filha. Já no “Trovador”, dois irmãos disputam o amor da heroína, em que cada um fora criado em situações diferentes. O irmão bem-criado, por vingança, coloca na fogueira o próprio irmão, que desconhecia como tal. Já na “La Traviata”, os intensos afetos são derrubados pela morte da heroína, dado ao pedido do pai dele para que se afaste do filho; ela, uma cortesã, e ele, um nobre. Mas o amor atravessa o tempo com o retorno do nobre, chegado de Paris, para ver sua amada morrer em seus braços de doença, no tempo, incurável.

Histórias mais leves trazem à baila no “Barbeiro de Sevilha”, de Rossini, um “Fígaro”, que se presta a arranjar namoradas ao amigo Conde e que, com a realização, consuma-se o matrimônio nas “Bodas de Fígaro”, de Mozart, que trata a história mais como uma comédia, resolvendo-se em situações cômicas, em que criada e condessa trocam suas vestes para enciumar o dom Juan, terminando em festa e risos. Levamos essa ópera, anos atrás, com cantores da terrinha, contada em português e cantada no original. Fora aprovada pela Lei Rouanet. Sucesso de três récitas!

No “Dom Giovanni”, de Mozart, citado como conquistador de centenas de mulheres, a morte do pai da amada aparece em visão fantasmagórica em luta com sua própria consciência. 

E, na vida real, como aceitamos o sentimento amoroso? Ora se transforma em amizade, nobre sentimento, ora em indiferença, ora em saudades, que o tempo não destrói.

Às vezes, os ressentimentos marcam trajetória de rancores, desprezo, mágoas. Os diálogos tomam proporções maravilhosas quando os pares se conhecem. Nas palavras de Mimi: “quando chega o inverno, ao primeiro beijo do sol, repasso sonhos primaveris, alimento da alma”. Mãos entrelaçadas, diz ele: “Como vivo? Vivo!”.

      Pois é, amor, alimento da alma, reacendendo-se em manifestações díspares, nem sempre identificando formas de amar indissolúvel, que termina no altar e se firma em festas de constantes bodas, até que a morte os separe!

E viva Santo Antônio, o santo casamenteiro!

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