Nós, os mais velhos, sempre usamos o chavão ao reportarmos a infância: “Ah, meus tempos de criança!”. Toda casa tinha seu quintal com frutas e hortaliças colhidas à hora e sem agrotóxicos. Brincava-se na rua, sem assaltos; subia-se nos pés de manga e de goiaba, comia-as com sal. Os pais sabiam que a rua era lugar seguro e as casas sempre abertas, mantinham as luzes acesas até que a noite, bem calma, trazia o sono tranquilo à petizada. Os gritos de fora não amedrontavam. As cadeiras na calçada, cantadas pelo poeta, eram convites às comadres, repassando mais uma receita de guloseima. As feridas em joelhos “esfolados” curavam-se com Merthiolate. Brincadeiras sadias enchiam o tempo e desenvolviam a criatividade das crianças. Não havia bullying, a vida corria límpida e serena.
Hoje, o mundo avança para o terror. As casas protegidas com grades nas janelas. O portão eletrônico das garagens é peça que, através de um “abre-te Sésamo”, põe à mostra o caminho da facilidade para os furtos e ameaças de bandidos profissionais, induzidos ao erro pela constância das ações repetidas, do raiar do dia ao anoitecer. Nem as escolas são isentas de perigo. As tecnologias avançaram no tempo e no espaço, deixando para traz os jogos Aquaplay, as bonecas, as locomotivas sobre trilhos, os Pega Peixe, os videogames, a peteca e as bolas de meia, as cirandas, o pique de esconder, o pisca-pisca, que faziam o sonho da garotada.
Os brinquedos são outros. A tecnologia avança seguindo a modernidade, arrastando para mais longe a criatividade infantil, e induz para uma competitividade de brinquedos, que podem levar à destruição da vida com páginas ilustradas ensinando brincadeiras expostas ao perigo. Brincam de se “enforcarem”, contando tempo de quem mais suporta o laço, como ocorreu há tempos com adolescente de treze anos, que, para ser o campeão do tempo contado, teve morte súbita. Nas redes sociais, também inventaram que, depois do laço, há o soco na altura do coração até que o “modelo” desmaie. Aí os “doutorezinhos” procuram ressuscitá-lo com tapas no rosto e outros golpes em meio a risos de vitórias. O que mais vimos é a derrocada da sensibilidade. Fatos hediondos, armas de verdade empunhadas por adolescentes, que se misturam ao tráfico de drogas.
Há esforço no resgate às brincadeiras de outrora, advindo tais ações da Escola, policiando no recreio o que a maioria dos pais, por omissão ou falta de tempo – porque se desdobram no trabalho a que a crise os obriga –, não observa em casa quando os filhos, fechados em seus quartinhos, ficam horas nos jogos perigosos que a Internet coloca, despertando sentimentos negativos… Não vamos julgar tais procedimentos avançados. A corrida desse mundo às avessas vem pintando de negro os acontecimentos. Os homens do poder querem fazer do poder sua arma de destruição. E ensinam até crianças, em países do outro lado do mundo, a manusear armas, matando irmãos. A fome e as doenças se alastram, porque até os remédios que alardeiam como meios de cura trazem efeitos colaterais, surgindo novos males e tornando-nos “escravos” dos laboratórios. A pandemia, com diversas vacinas, por caminhos tortuosos, ora traz confiança ora temerosos, devido a efeitos colaterais.
As guerras pintam de negro a ambição, longe de mostrar histórias bem-acabadas em exemplares manifestações. Só se vê tristeza num mundo que prega a paz, mas não a pratica. O que restará à geração de nossos netos?
Até quando os brinquedos “esconde-esconde” da verdadeira face triunfarão sobre a verdade, cada dia tornados irrelevantes ante universo de pregações mafiosas de atentados terroristas?
A.G.A.