Pelo título, vê- se que se trata de uma composição cantada por sopranos e difícil, executada por cantora popular.
Desfolhando ainda o livro de “As Divas do Rádio” e alertada por colega que se interessou em conhecer as fases não só brilhantes, mas também melancólicas dessas artistas, porque psicóloga, resolvi mostrar neste espaço este conto de um ideal buscado a cada tropeço, porque o que conseguimos vem baseado em pedras desviadas ou retalhadas pelos muitos campos percorridos. Cantora que recebeu adjetivos de “A enluarada”, a Divina, e constrangida pelo último codinome, confessando-se que Sarah Vaughan lhe disse: “não abdique dele, foi uma conquista sua”.
Fez sucesso com grande afeto cantando “Boneca de Pixe”; teve que sustentar a família com o falecimento de seu pai. Evaldo Rui, irmão de Harold Barbosa, aquele com que se pretendera casar-se, mas, suicida sem explicar os motivos. Namoradeira, interpretou músicas de Tom Jobim e Vinícius, clássicos da bossa nova, que não a deixava tão à vontade. Quando o maestro lhe solicitou cantar “Bachianas n.° 5”, de Villa-Lobos, levou um susto, e cantou-a dias depois, no Teatro Municipal de São Paulo, sendo ovacionada por 15 minutos, de pé, aos gritos de bravo e bis!
Trajetória de sucessos, mas vida amorosa marcada pela infelicidade. Com câncer e passando por duas cirurgias, quase um infarto a leva, vindo a morrer em maio de 1990.
Quem não se lembra de “Carinhoso”, “Feitio de Oração”?
Se a Rádio Nacional marcou o tempo áureo das divas do rádio e decaiu quando o movimento militar a denunciou, através de César de Alencar, eles se instalaram no Cassino da Urca e com o tempo se alojaram na “platinada”, com passagens efêmeras. Política, percebe-se, nunca sucumbe à arte porque é uma forma de expressão cultural. Não a influenciaram de forma latente porque a ciência é vinculada à ética e à liberdade de uma nação. Pensemos na cantilena que dá nome ao texto. A primeira parte canta-se vocalizada, sendo que a segunda traz a mensagem através do canto dado, visto que a cada uma delas Villa endereçou um instrumento.
“Vislumbra a tarde qual uma nuvem branca e transparente no entardecer da luz da lua como se fora meiga donzela sonhadora. A natureza se agiganta e a passarada canta seus queixumes, até que a lua desperte na cruel saudade que ri e chora!”
Como Elizeth Cardoso a cantou, traz a curiosidade de uma peça interpretada “à la Elizeth”, aplaudida de pé por longos minutos. Imaginemos sua interpretação trazendo-nos misto de curiosidade ao compositor e à intérprete.
Atualmente, empenhando-nos todos para que o “prêmio Nobel de Literatura ano 2023 nos acaricie, através do indicado médico Dr. José Humberto da Silva Henriques, estivemos na semana finda com a senhora prefeita, Elisa Araújo, hipotecando todo o apoio ao nosso acadêmico. Tarde acalentadora com o artista Milo Sabino, na leitura de poema do insigne candidato, tendo o músico professor Cacá Sankari executado ao cello a bem escolhida peça de Villa-Lobos na parte solfejada da “Bachianas n.º 5” – que fez fundo musical àquela tarde histórica da literatura brasileira – Dr. José Humberto da Silva Henriques!
Arahilda Gomes Alves