Aniversariar ou se casar é festejar com pompa e circunstâncias, sem alusão à marcha de Elgar, feita especialmente para o casamento da rainha da Inglaterra, e que marcam datas especiais juntadas às folhas do calendário da vida.
Modismo acolhido do Tio Sam, também, a melodia cansativa do “Parabéns a você” e complementada pelo: “Com quem será?...”.
Mas essa dama de históricas tradições não se importa de se lembrar em toda sua data festiva, embora contraditória. Semeou riquezas, aformoseou-se, fortaleceu-se. Sua fama alardeou bons pedaços de terras vizinhas. Sua religiosidade emanava expressão angelical sob as bênçãos de Santo Antônio, o casamenteiro, e São Sebastião.
Cresceu em espaço privilegiado, aspergido de águas cristalinas. Caminhou recebendo vários títulos, indo de Freguesia ou Paróquia a Arraial ou Vila e, finalmente, o de Cidade.
Datas lembradas disputavam primazia, prevalecendo por mais de cem anos, a de dois de maio do longínquo 1856, quando elevada à cidade ricamente merecedora de celebrações, desfiles e até belo hino marcante de Lucio Mendonça, eterno secretário da Casa Municipal, e seu parceiro preferido, maestro Renato Frateschi.
Os mais velhos ainda se lembram com carinho e civismo. Até o Conservatório fundado pelo compositor acima o regeu defronte ao Paço Municipal, entoado por nós, alunos daquele educandário.
Mas, sem divórcio, juntaram-na a duplo acontecimento, tentando novo casório e aniversário. Transparente, presentearam suas terras demarcadas entre dois rios piscosos – Paranaíba e Rio Grande –, onde se achava confortavelmente olhando horizontes, a cidadezinha ainda de pés descalços, mas de coroa reluzente: São Paulo, Goiás, Minas, onde retorna como boa filha alojada ao cordão umbilical ante o brasão familiar. As outras maninhas à sua volta animavam-na a crescer, semeando feitos com seu narizinho empinado a circundá-las. Poucos bairristas, bastante amorosos, cultuavam sua identidade histórica fincada por Major Eustáquio. Homens públicos esbravejavam sua raça com brasão de Princesa do Sertão, precisando galgar o de Rainha do Triângulo, ante pastagens escorrendo o “ouro branco” da pecuária e a ecoar pelos ares internacionais. Entusiastas festeiros tentam rebatizá-la fixando sua efeméride a dois de março, quando, em 1820, recebera o “medalhão” de Paróquia.
Envelhecera trinta e dois anos a curto prazo de tempo, com toda a sua prole chorosa, entristecida e vilipendiada por forças ocultas! Crescendo assustada com a reversão histórica de passado contraditório, desanimou-se parcialmente, tendo de cantar outro hino oficializado.
E no antigo coreto do jardim, símbolo marcante da sua história primeira, onde chafariz luminoso desenhava coreografias em provocante bailado de água pura e cristalina, precisou higienizar-se ante ovos de mosquitos traiçoeiros, na febre de contaminações, a picar gente trabalhadora, mas cidadela de poucos guerreiros da mosca azul do progresso caminhando lentamente.
Volto ao hino primeiro, lançado no Centenário de 1956: “Santa Rita desdobra a memória/De altos feitos no seu campanário/E Uberaba, nas garras da História/Vive as pompas do seu Centenário”. E o coro, entusiasta da juventude: “Uberaba, nobre terra/Honra e exalta os filhos teus/Em tua imagem se encerra/Todo um sorriso de Deus!”.
O novo hino, com letra do araguarino Ari de Oliveira e música de Gabriel Totti, registrou-se como “Hino de Uberaba”: “Da jornada de fé, corajosa/De riquezas por todo o Brasil/tu surgiste, Uberaba formosa/Na campina, sob o céu de anil//És Uberaba, o formoso/e mais rico florão/deste nosso Sertão valoroso/Oh! Grande terra gentil/Um torrão sem igual/No planalto central do Brasil”.
Arahilda Gomes Alves