Enfocar a Mulher medianeira dos séculos XX e XXI como elemento criativo é retratar vivência de sonhos e ideais.
Com perseverança e otimismo, vai ao encontro da música vinda do céu. Cria um mundo dentro de seu pequeno mundo.
Viera predestinada a criar trajetórias de lutas, destacando vitórias. Porque a Mulher no mundo de outrora, arraigada a preconceitos, educação severamente à antiga, entrelaça em eterna recriminação, sem se deixar compactuar com o negativismo, porém. Ser Artista?!
Assim cresceu a menina, cheia de ilusões, recebendo a seiva bruta da educação severa. Aos sete anos, encontram-na nos bancos escolares, e o calendário festivo da Escola a faz representar Pituchinha, heroína do seu pré-livro. Ela lê histórias, canta, dança, até que se torna oradora em festa de formatura no cinema mais importante da cidade: Eis-nos chegados ao fim da primeira etapa escolar...
A noite a surpreende em diálogos musicais. O fogão a lenha, coberto com pano de prato, da louça enxugada há pouco, serve-lhe de piano. Dedos de unhas roídas correm céleres pelo teclado imaginário, soando forte na vozinha estridentemente fina, incomodando a vizinhança.
Afinador amigo a “presenteia” com piano europeu, sem consertos. Castiçais ornamentam a frente da caixa de ressonância marcando áureos tempos do período colonial. A modinha cantava dores de amor incompreendido. A “prima-dona” recitava e entoava árias em eloquente lirismo de tragédias veristas. O piano de parcas cordas “cantava” Chopin, Beethoven, Liszt na voz adolescente da imaginária pianista. Até que o piano se quedou, alimentando o fogão, que alimentaria outras bocas!
Versos enchem folhas de cadernos. Margens de livros em desenhos de corações transpassados com flechas. Um diário vem à lume, gravando os rubores do primeiro beijo. A falta de diálogo dos pais, por respeito ou temor, impede o falar de sexo. E a sonhadora adolescente procura no álcool o desinfetante, que esfrega na boca com receio de uma gravidez. Beijo de avezinhas trocado fortuitamente se agigantara em imagens retorcidas. Sonhos se tornam pesadelos. Cresce cantando nos palcos das capitais. Viera o amadurecimento nas sofridas caminhadas, em meio a duetos a se tornarem solos retratando sentimentos e ressentimentos. Com estilo próprio e crescendo em sala de visitas da família para sua satisfação pessoal. Aplausos seriam o ruflar das asas dos anjos no ameno roçar da brisa de novo dia. Sem nuvens carregadas, ante o arco-íris multicolorido de dias chuvosos e tristes com o renascer do sol, revigorante.
E na vida de uma mulher há sempre o criar de novo dia. Porque ela sempre será artista!
Feita da costela de Adão, fora espatulada e pincelada pelo dedo de Deus. Deu-lhe o colorido das cores suaves. A perspectiva de profundidade guardou-a no fundo dos olhos a janela da alma.
Rica em sensibilidade, colocou-a em plano de igualdade ao ultrapassado sexo forte. Nunca fora sexo frágil, porque mulher século XXI tem a tenacidade de pedra diamantífera. Traz em suas entranhas o calor da doçura do amor. O alento e a coragem da luta. Metamorfoseia-se de: mulher lar, mulher chefe, mulher-mãe, mulher rainha.
Mulher de recolhidas emoções e sentimentos perenes. Mulher, perpetuidade de vidas carreando cargas de amor, registro milenar de gerações… Mulher que traz o “M” na palma da mão a se tornar menina-moça caçadora e casadoira, ou independente, filhos nos braços. Mulher vaidosa, perdida e achada, desafiante das passarelas da vida, figurante de um teatro de papéis decorados ou descorados. Mulher, receptáculo de óvulos fecundados, reprodutora, merecendo holofotes, flores e faixas de exaltação. Porque, na consumação do amor gratificante, torce pela humanidade sadia, cheia de bem-aventuranças, sequenciando vidas na formatação de gerações de novos mundos!
Mulher a cultuar o nobre sentimento de dar ao homem a soberania das coisas terrenas, ela, que tem a “poção mágica” de tudo tornar divino. Afinal, ela é artista, e a ARTE transcende a sensibilidade!
ARAHILDA GOMES ALVES
CADEIRA 33 DA A.L.T.M.