ARAHILDA GOMES ALVES

Cordão umbilical

Arahilda Gomes Alves
Publicado em 13/05/2023 às 19:29
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Como fugir dele, se a genética é testemunha sentimental? Como se safar dessa maternidade, mesmo sem querer? Afirmar que ao homem ela vem camuflada porque a covardia e a irresponsabilidade a reneguem não leva o pai vantagem, porque o exame de DNA se apresenta lépido e paternalista na empreitada.

Fale mal de um filho e sinta a reação de pronto! É como se erguesse na ponta dos pés na defesa, quase sempre, do pimpolho a quem deu à luz.

Todo esse preâmbulo leve a demonstrar que não é tão leve assim a tarefa materna, quando os homens-pais repassam a elas [mães] a tarefa do formar, se ele fugir de repassar exemplos. Antigamente, mesmo sendo os pais exemplos aos filhos, diziam eles a frase, quase chavão: – “Fale com sua mãe, ela resolve”. Ou então: – “Por que você permitiu tal atitude?”.

 Mas, assim mesmo, era um lar doce lar. Os pais eram autoridades, que se respeitavam. As mães, o papel da suavidade no educar e, muitas vezes, resolvia-se entre mãe e filho o problema que a severidade paterna “dava uma de machão”.

Achei linda a escolha para o Dia dos Pais em Portugal, quando se comemora o Dia de São José, a 19 de março, homenageando-o e à Sagrada Família.

Sem cortar o cordão umbilical, lembremo-nos das Mães da Praça de Maio, movimento iniciado em 1973, através de panelaço, cobrando os filhos desaparecidos na ditadura argentina, somando-se trinta mil vítimas. Depois, surgiram as Avós da Praça de Maio, denunciando suas filhas sequestradas grávidas com netos nascidos nos porões da Ditadura e entregues a famílias repressoras, sendo que muitos deles foram recuperados após dezenas de anos.

No Brasil de 64, o período repressor fez chorar muitas mães com filhos mortos pela Ditadura.

Mas, em 1995, “os filhos” se movimentaram contra o esquecimento e o silêncio, reerguendo o movimento das mães que choravam seus filhos desaparecidos.

O cordão umbilical cortado na hora do parto não se perde. Agiganta-se, avoluma-se, cria matizantes cores, pinceladas no amor e vivificadas nos sentimentos que a maternidade formata, em grandes cargas da responsabilidade, o registro milenar das gerações.

Mães parideiras de filhos abençoados ou perdidos pelas estradas caminhantes. Mães esquecidas ou mal lembradas, perdidas e achadas nas passarelas da vida, figurantes de um teatro, papel decorado ou descorado pelos disfarces de uma sociedade preconceituosa.

Todas elas, receptáculos de óvulos fecundados, na alegria ou na dor, merecem holofotes, flores e faixas de exaltação, porque, no coito do amor e do prazer, torceram por filhos de uma sociedade sadia e produtiva que, nos dias atuais, se deixam levar por exemplos duvidosos que a grande Pátria-Mãe oferece, sangrando, impiedosamente, o imenso cordão umbilical verde-amarelo, sereno e belo!

Arahilda Gomes Alves

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