ARTICULISTAS

Criança prodígio

Arahilda Gomes
Publicado em 07/06/2023 às 20:31
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 “Último concerto do menino que ainda não tem sete anos. Tocará ao cravo um concerto para violino e acompanhará com um pano cobrindo o teclado, designando pelos nomes todas as notas desferidas, além de improvisar durante o tempo que se quiser...” Nota de jornal alemão datado de 1763, expressando-se sobre Wolfgang Amadeus Mozart, tendo desde os quatro anos inclinação para a música e que aos cinco decorava peças antes de saber ler. Suas composições traziam a marca inconfundível de seu estilo: graciosas e precisas, segundo seu biógrafo.

Conta-se que, ao ouvir um coral no Vaticano cuja peça era proibida de ser copiada – um Miserere – sob pena de excomunhão, o garoto memorizou-a inteiramente e a reescrevera. O pai, Leopoldo, bom professor, o “explorava” levando-o e a irmã, violinista exímia, para concertos em toda a Europa. Conta-se que, ao tocar para a família imperial da Áustria, levara um tombo, sendo socorrido por uma jovem a quem prometera, ao crescer, casamento. Tratava-se de Maria Antonieta...

Tocava em todos os lugares, das estalagens aos palácios, sempre alegre e sem se cansar, improvisando incessantemente e recebendo afagos, presentes e aplausos de mocinhas a cavalheiros, até que o pai o admoestasse para parar. Mas sem compensações financeiras. Os críticos reconheciam nas suas composições algo de “demasiado modernas e avançadas”. Dizem que influenciou o romântico Chopin, que pedira no leito de morte lhe tocassem algo de Mozart. Como também a Wagner, Strauss e Schumann, que vieram depois dele.

Mozart sofrera muita inveja de seus colegas de profissão, impedindo até que tocassem suas músicas ou até sendo destruídas para que pudessem ser incorporadas a outro autor, quando nem existiam os “direitos autorais”.

Duas irmãs tinham sua atenção para a realização de núpcias, sendo que Aloizia se esquivou ante sua pobreza, tornando-se famosa cantora de ópera, mas, reanimado por Constance, mulher frívola, a quem Mozart tudo fazia ante seus caprichos. Com todas as perseguições e dificuldades, porém, nunca colocara em suas músicas quaisquer desabafos de sentimentos negativos. Reduzido à extrema necessidade, cobradores a todo instante, Mozart compunha sofregamente em meio ao frio austríaco. Amigos lhe traziam carvão para a lareira, provendo aquecimento. As cartas de Mozart ao amigo Puchberg para socorrê-lo; não se imagina o que sofrera quem fora gênio.

Suas “Bodas de Fígaro”, vaiada em Viena, consagrara-o em Praga, sendo assoviada nas ruas, proporcionando-lhe melhores tempos, onde escrevera a ópera “Dom Giovani”, considerada a ópera perfeita. Da Ponte, seu libretista, alegre e brincalhão, era seu vizinho, e sempre um acorria à casa do outro para ouvirem suas composições.

Já doente, não assistira à sua “Flauta Mágica” encenada em teatro meio arruinado, acompanhando pelo relógio o que se passava em cena. Fora sucesso de bilheteria, mas que ele pouco pôde aproveitar. Conta-se sobre pessoa que lhe encomendara uma Missa fúnebre, mas no delírio da doença, achava que o Réquiem fosse para sua morte. Poucos amigos acompanhando-lhe o féretro, interrompido em meio a grande tempestade, que os obriga a se afastarem. O caixão seguira sem acompanhamento. Fora enterrado em vala rasa, em meio a vagabundos e miseráveis, aquele que, em vida, fora exemplo de dignidade e harmonia.

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