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Criança prodígio

Arahilda Gomes Alves
Publicado em 20/02/2024 às 18:39
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 “Último concerto do menino que ainda não tem sete anos. Tocará ao cravo, um concerto para violino e acompanhará com um pano cobrindo o teclado designando pelos nomes, todas as notas desferidas, além de improvisar durante o tempo que se quiser...” Nota de jornal alemão datado de 1763 expressando-se sobre Wolfgang Amadeus Mozart tendo, desde os quatro anos, inclinação para a música e que aos cinco decorava peças antes de saber ler. Suas composições traziam a marca inconfundível de seu estilo: graciosas e precisas, segundo seu biógrafo.

Conta-se que, ao ouvir um coral no Vaticano, cuja peça era proibida de ser copiada – um Miserere – sob pena de excomunhão, o garoto memorizou-a inteiramente e a reescrevera. O pai, Leopoldo, bom professor, o “explorava” levando-o e à irmã, violinista exímia, para concertos em toda a Europa. Conta-se que, ao tocar para a família imperial da Áustria, levara um tombo, sendo socorrido por uma jovem a quem prometera, ao crescer, casamento. Tratava-se de Maria Antonieta...

Tocava em todos os lugares, das estalagens aos palácios, sempre alegre e sem se cansar, improvisando incessantemente e recebendo afagos, presentes e aplausos, de mocinhas a cavalheiros, até que o pai o admoestasse para parar. Mas, sem compensações financeiras. Os críticos reconheciam nas suas composições algo de “demasiado modernas e avançadas”. Dizem que influenciou o romântico Chopin, que pedira, no leito de morte, lhe tocassem algo de Mozart. Como, também a Wagner, Strauss e Schumann, que vieram depois dele.

Mozart sofrera muita inveja de seus colegas de profissão, impedindo até que tocassem suas músicas ou, até destruíssem, se pudessem ser incorporadas a outro autor, quando nem existiam os “direitos autorais”.

Duas irmãs tinham sua atenção para realização de núpcias, sendo que Aloizia se esquivou ante sua pobreza, tornando-se famosa cantora de ópera, mas, reanimado por Constance, mulher frívola, a quem Mozart tudo fazia ante seus caprichos. Com todas as perseguições e dificuldades, nunca colocara em suas músicas quaisquer desabafos de sentimentos negativos, porém. Reduzido à extrema necessidade, cobradores a todo instante, Mozart compunha sofregamente em meio ao frio austríaco. Amigos lhe traziam carvão para a lareira, provendo aquecimento. As cartas de Mozart ao amigo Puchberg para socorrê-lo, não se imagina o que sofrera quem fora gênio.

Suas Bodas de Fígaro, vaiada em Viena, consagrara-o em Praga, sendo assoviada nas ruas, proporcionando-lhe melhores tempos, onde escrevera a ópera Don Giovanni, considerada a ópera perfeita. Da Ponte, seu libretista, alegre e brincalhão, era seu vizinho e, sempre um acorria à casa do outro, para ouvirem suas composições.

Já doente, não assistira sua Flauta Mágica, encenada em teatro meio arruinado, acompanhando pelo relógio, o que se passava em cena. Fora sucesso de bilheteria, mas que ele pouco pode aproveitar. Conta-se, sobre pessoa que lhe encomendara uma missa fúnebre, mas no delírio da doença, achava que o Réquiem fosse para sua morte. Poucos amigos acompanhando-lhe o féretro, interrompido em meio a grande tempestade, obriga-os a se afastarem. O caixão seguira sem acompanhamento. Fora enterrado em vala rasa, em meio a vagabundos e miseráveis, aquele que, em vida fora exemplo de dignidade e harmonia.

 Arahilda Gomes Alves

Cadeira 33 ALTM

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