Parece-me ser Nelson Gonçalves quem cantava música com título acima e continuava: “vão caindo serpentinas, umas grossas, outras finas, que nos vêm atordoar”...
O tríduo momesco, que se multiplicou em mais dias de “ensaios”, representa em terras brasileiras o passaporte da alegria e completo abandono das preocupações alçado em êxtase ou alienado por completo. Os carnavalescos, muitos deles saem de casa e só voltam na Quarta-feira de Cinzas. Deixam as tristezas de “molho” e jogam as serpentinas e os confetes da felicidade como se o mundo acabasse durante a maior festa do ano. Cada região capricha na folia. É trem elétrico, sãos blocos com gigantes bonecos na representação de personalidades… Eu disse personalidades? Onde encontrar essa gente, quando o Brasil atravessa a maior crise da História? Vi uma charge que bem retrata a situação brasileira: político fantasiado de bandido e o povo, de palhaço. Os homens da Nação (cacófato adequado), que deveriam cumprir o lema “Ordem e Progresso” da nossa Bandeira-símbolo, rasgaram-na e tentam remendá-la com retalhos velhos, fantasias de outros carnavais. A Lava Jato tornou-se jatos pingados, o Mensalão, propina irrisória ante delações premiadas. Os gatunos, grandes[A1] [U2] [U3] gatos pingados na enxurrada dos gigantescos jatos, políticos idealistas(!) de caras lavadas, onde a voz do Brasil ficou tão rouca ante tantos banhos de falsa cidadania.
Veio-me a reflexão: li sobre os bilhões emprestados pelo BNDS para faraônicas obras em países comunistas e de ações sanguinárias pelo continente, enquanto estradas, pontes e outras construções necessárias à expansão brasileira apodrecem e seus bilhões são desviados.
Há quem aproveite a época pra fugir dos maus presságios, que vêm por aí, se nossos Três Poderes continuarem abusando dos blocos que deveriam ir às ruas para, com panelaço, mostrar a realidade de nossa gente cansada de encaminhamento aos legisladores com abaixo-assinados, mas que legislam em causa própria. Inda mais que se propala por aí que a idade média de um vivente subiu na “passarela do samba”, enganando o trabalhador a cumprir mais folguedos trabalhistas, deixando pra morrer centenário! Enquanto os tamborins repicam chorosos, a gargalhada no picadeiro da vida ecoa sem graça da grande piada que nos chega aos ouvidos, todos os dias, deste indigesto ano que se supunha esperançoso.
Jogo água benta, fantasiando a vida de poesia. Ela nasce sem que se anuncie a chegada. Reanima alma e coração.
São carnavais pincelados de literatura: Decorei de serpentinas/O meu quarto de dormir/Criei blocos de fantasia/Cantados em poesia/Eram sonhos virtuais/De outros carnavais/Cremados na Quarta-feira de Cinzas!
Ou para uma reflexão: A vida é como o vento/Que sopra e se vai/É como o tempo/Que a cada instante se esvai/Tempo de adormecer para acordar/Que não se pensa acordar para amanhecer...
Arahilda Gomes Alves
Cadeira 33 da A.L.T.M.