Nunca os fãs-clubes foram tão ameaçadores quanto aos das duas famosas cantoras acima citadas, provocando atitudes impensadas, atingidas pela rivalidade. O nascimento de Emilinha Borba se deu a 31 de agosto de 1923, tendo Marlene nascido um ano após, a 22 de novembro. A primeira, recatadíssima, considerada pela rival uma “Santa Rita de Cássia”, pela brandura, enquanto Marlene fora exuberante, sensual, moderna e polêmica, mas ambas casadas (com um só marido), fugindo ao costume das artistas do rádio.
Emilinha, com enorme fã-clube, que a levava a responder às cartas dos fãs educadamente. Marlene, ousada, dançava e cantava, sendo “crooner” de vários cassinos.
Emilinha, que estimulou a criação de fãs-clubes, fenômeno tanto social como político, vestia-se de forma “careta”, estilo família. Bonita, somava talento e beleza, nunca tendo mostrado as pernas.
Marlene foi contratada pela Rádio Nacional em 1948, quando o carnaval explodia com suas marchinhas, como “Pirata da perna de pau”, de João de Barro e Nuno Roland, tornando-se, também, símbolo do guaraná Caçula, lançado àquela época. Como Rainha do Rádio, recebera 530 mil votos, ficando Emilinha em terceiro lugar, ela que era a favorita. Daí a rivalidade entre ambas.
Emilinha Borba colecionou títulos e prêmios, sendo treze vezes o primeiro lugar, quatro vezes o segundo, duas vezes o terceiro e três vezes o quarto. Um título de que se orgulhava era o de Favorita permanente da Marinha.
Marlene tentou, inutilmente, o título de Rainha da Aeronáutica. Ela conta que, ao sair do Hospital onde sofrera problema em uma gravidez, deparou-se com uma garota meiga esperando por ela e, supondo que ela quisesse um autógrafo, aproximou-se. A linda garota segurou seu rosto e deu-lhe de surpresa uma “joelhada” na barriga, fazendo-a voltar ao Hospital! Era fã de Emilinha...
Embora Emilinha se referisse a ela como “querida amiga”, a verdade é que ambas não tinham boas relações. Provavelmente, ela era a cantora mais eclética do Brasil. Cantava samba, baião, marcha, frevo, bolero, rumba, fox, toada, choro e guarânias, com a mesma competência: “Quando a lama virou pedra / e mandacaru secou...”, de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. E dos mesmos autores, o “Baião de Dois”. “Chiquita Bacana”: “Chiquita Bacana lá da Martinica”..., de Alberto Ribeiro e João de Barro.
O talento e a graça de Marlene estavam nas canções que ela gravava, conquanto cantava músicas de protestos: “Quatro horas da manhã / Sai de casa Zé Marmita”... “Lata d’água na cabeça / Lá vai Maria...”, ambas de Luiz Antonio, expondo as mazelas sociais.
O fanatismo de uma fã levara a afirmar: “se tiver que morrer atropelada, que seja pelo carro de Marlene. A “dupla personalidade” de Marlene com Victoria Bonaiutti, seu verdadeiro nome de batismo, tentava controlar os impulsos da primeira.
Marlene, grande atriz, notável intérprete. Quando a Rádio Nacional, em sua época de ouro, em 1955, as cartas definiam: Emilinha Borba, 40.445, e Marlene, 17.700.
O golpe militar de 1964 e o advento da televisão puseram fim ao encanto de uma época.
(Baseado no livr As Divas da Rádio Nacional, de Ronaldo. C. Aguiar)
*************************************************Arahilda Gomes Alves