Só faltava essa – criar o Dia do Sexo! Em plenas férias de fim de ano, quando o relaxamento é total, para não deixar nada inacabado... Nossos legisladores sofrem, coitados, não têm tempo para tais folguedos, e criaram há tempos o dia de alegria e de farras. Mas o que virá depois disso? O dia do dorminhoco, contrastando com o do trabalhador; o do gato e rato; o do cão e gato; o do lobo e cordeiro, e, o mais importante, o do coelhinho acasalador como bichinho de estimação, que mais procria. Outros, mais importantes: do colarinho branco e o da cueca suja. Mais: o dia do pau, melhor, do pão duro e o da mão aberta; o da Copa e do copo! Afinal, brasileiro é festeiro e gozador. Inspiração prognosticando sentença do: relaxa e goza! O 14 de janeiro, data fixada conforme projeto de lei 7.041/10, para a aleluia sexual, dará às terras não cultivadas tantos brasileirinhos para o Bolsa Família, povoando o sertão. E terras sem canaviais, para que, em se plantando, tudo dá. Terras áridas saqueadas pelo açúcar darão guarida à brava gente brasileira adoçando corações. Todo melado será pouco naquele festeiro dia. A garapa fortificará e pinga vai rolar, com tempo para beber e conversar.
Imaginemos que não fora essa a intenção de nossos bravos legisladores. A data objetiva habituar o povo brasileiro a cuidar da saúde. Laboratórios se enriquecerão com lançamentos de preventivos. Prevenir para não maldizer o coroado dia do sexo. O “fazer amor”, ao invés de agir animalescamente. Não se sucumbir ante ação abrasadora de falsos atos amorosos, sem alegrias e gozos relaxantes, mas responsáveis. E em terra que há o dobro de mulheres em relação aos homens de osso, como ficaria a outra metade? Só amores virtuais preenchendo o vazio do ser. Choros e risos amarelos na constatação de que o que é bom dura pouco. Um “dia seguinte” de frustrações e amores impossíveis de acalentar. A mágoa, ante cada traição. Porque se esquecerão de “dourar”, melhor, de tomar a pílula da noite, fazendo com que a do dia seguinte seja o marco de um fato novo, mas dignamente arregalado no calendário folhetinesco. Barrigudinhas, empinadas, cobram alimento para dois. E o governo, que não sabia de nada, acorda ante os gritos dos estômagos vasios. As “prenhas”, assustadas, pedem aos bravos legisladores para criarem o dia do prato feito e o do caldo de galinha, abastecendo os que passam fome por esses imensos brasis. E como homenagearam irmãos nordestinos com o Dia Nacional da Baiana do Acarajé, para não deixarem enciumados os sulinos, projetarão outras guloseimas: o dia do pão de queijo, o da galinhada, da carne seca, do chimarrão e do feijão tropeiro! Ecoará o do “café com pão, manteiga não”, cantilena sonora do popular trem de ferro, lembrando políticos de não transitarem pelas rodovias esburacadas e perigosas. Mas, na motivação de votos de cabresto, despertarão figurões do Planalto para caminhar pelas estradas afora na conquista dos devotos do voto “pingado”, porque eleições se avizinham para mais promessas. E os “fichas sujas” barrados no baile? Encharcados e lamacentos da cabeça aos pés, passarão mais um quatriênio de orgias nas palacianas estruturas côncavas e convexas?
Continuarão relaxados, gozando o povo no “vitalício” jogo de uma democracia prenha de corruptos nascidos das pútridas entranhas do poder!
Arahilda Gomes Alves