Estava ao alcance das mãos. Os olhos perscrutavam títulos motivadores, que deixaram lembranças. Ou que acordassem a saudade estimulada pelos livros ali, de pé, enfileirados, mas em repouso. Pensei: Bom, se os empilhassem por assuntos, seriam fáceis de dialogarmos.
Achei! Era uma bela coletânea com pensamentos de uma geração variável, que passara por lá. Tomei-o carinhosamente e comecei minha caminhada. Crônicas compiladas por duas amigas intelectuais com brilhante ideia de lançar impressões sobre o que se comemorava: Vânia Maria Resende e a saudosa Terezinha Hueb de Menezes convidaram ex-alunas daquele Colégio, aniversariando há mais de cento e trinta anos. Cada uma das alunas cronistas, numericamente, quarenta e quatro, abrangendo período de 1930 a 1990, desmanchava-se em elogios e agradecimentos àquela casa, templo do saber, enorme, acolhedora.
Era o poder da memória afetiva vinculado pela linguagem em que se inscreve a herança da formação humanista, de ex-alunas de influências dominicanas, bem retratadas na apresentação pela grande Vânia Maria Resende.
“Quantas saudades do Colégio vou levar”, título a marcar o presente, guardando o passado e aguardando o futuro, na validade de ser presença histórica trilhada humanamente”, expressadas por Vânia e a saudosa Terezinha.
Acima, o título que escolhera, de sonhos feitos realidade, na inquietude da adolescência. No Canto, a descoberta da Arte. Sempre presente, nas festas escolares. Porém, enrouquecia nas apresentações... as lágrimas sorviam o canto triste, estrangulando as pregas vocais em círculo vicioso e afetando a virtuosidade.
Longa escadaria a galgar o topo da felicidade. A formatura nos pega em sobressaltos. Labirinto desconhecido a nos arremessar para um mundo novo, desconhecido. De adolescente a mulher. De estudante, a profissional. De um mundo despreocupado à vida desafiadora.
Como submergir lembranças desse Colégio dominicano, onde a arte do educar explode em cada coração de quem andou por entre corredores guardando feitos de sonhos e sonhos feitos em realidade?
Para marcar mais a data, ensaiamos um Coral de ex-alunos com peças lindamente transportadas do tempo de colegiais. Até o chamara, parafraseando, de Colégio Nossa Senhora das Alegrias em meu livro “Sob mil olhares”. No salão nobre, cheio de esperanças, nosso canto forte e cívico, misto de canções franco-brasileiras saindo pelas muitas janelas arremessadas aos píncaros da grande colina do “Alto” da Abadia.
Passados mais de cem anos, nosso livro de saudades traz à tona as cores alegres da história, que se firma e se agiganta, repintando-a em cores vivas e indeléveis, contadas pela voz sonora do livro, bons tagarelas, oráculos predestinados, que falam pela boca de quem os leem, pelos olhos de quem os veem e pelo coração de quem os sentem.
Quis rever esse tempo de estudante, deixando marcas indeléveis dos que se foram e festejando os que estão entre nós, ainda em sonhos reais de vidas vividas em meio às saudades.