As festas, em casa de amigos e familiares, trazem alegrias objetivadas no Canto em coro numa versão do “Parabéns a você” americano, porque brasileiro adora imitar tudo que for do estrangeiro, principalmente nos anais sociais, sendo que nossa língua é riquíssima, sem recorrer a outros idiomas. Mas vamos voltar às festas. Há um “Parabéns a você” bem brasileiro, composto por Villa Lobos e seu eterno parceiro Manoel Bandeira, que sempre “puxo”, mas ninguém o canta. Festas escolares, a obrigatoriedade dos hinos de escola fechando a data e abrindo com o Hino Nacional. Devo ter composto quase uns quarenta deles, até para as cidades vizinhas, tornando-me uma ágil “fazedora” de letra e música. Em se tratando de festas da cidade, o povo reclama seu hino e com razão. Lembro-me que, em 1956, no centenário da terrinha, a Câmara Municipal, em decreto, tornou o Hino do Centenário oficializado. Formatado em versos decassílabos, recebeu a assinatura do eterno secretário da Prefeitura, Lúcio Mendonça Azevedo, musicado pelo seu parceiro de várias composições, Maestro Renato Frateschi, honroso mestre que deu nome ao Conservatório do Estado. Lembro-me que, defronte ao paço municipal, nós, alunos, cantamos entusiasticamente o belo hino, que a banda do Quarto BP acompanhou: “Há cem anos, bem longe, passados / No planalto da terra mineira / Sob as bênçãos dos céus, aclarado / A cidade surgiu condoreira.” Bisava-se a estrofe com nova linha melódica de entusiástico civismo. O estribilho entoava: “Uberaba, nobre terra / Honra e exalta os filhos seus / Em suas imagens se encerra / Todo um sorriso de Deus.” Na última estrofe, a imagem poética da verve de Lúcio Mendonça, com música inspiradíssima: “Santa Rita desdobra à memória / De altos feitos no seu campanário / E Uberaba nas garras da História / Vive as pompas do seu centenário!”.
O tempo passou, a cidade cresceu, nasceram outros uberabenses, creio que desconhecendo o fato histórico. A Câmara de vereadores abre concurso para a o Hino da cidade… Fizemos parte da comissão e, claro, jamais poderia concorrer com os dois hinos que nosso Coral entoou para serem julgados pela comissão. O outro trazia a assinatura do jornalista araguarino Ari de Oliveira, com música do historiador Gabriel Totti, amigo de meu pai e que bem conheci, no velho sobrado da rua Artur Machado defronte ao renomado Bar da Viúva. As opiniões divergiam, mostrando eu que o primeiro poderia continuar como constado em ata anterior só trocando a palavra – centenário – por aniversário… Houve outra voz discordante, alegando que o segundo, de fácil entonação, seria cantado nas escolas. Fui voto vencido. Fomos à Fundação Cultural lançar o Hino em “primeira mão”, ainda nas dependências do pátio da igreja de São Domingos, quando do lançamento do livro de Maria Antonieta B. Lopes e Maria Soledade Borges, o primeiro livro contemplando Uberaba, com suas ricas terras geográficas e históricas, atendendo à necessidade do conhecimento pelas classes estudantis do segundo ano do então Ensino Primário.
Quanto ao Hino, que se sagrou vitorioso, um detalhe que poucos conhecem: O letrista Ari de Oliveira era defensor ferrenho da separação do Triângulo Mineiro das Minas Gerais. Seu último verso dizia: “Tuas matas, teus campos, teus montes / De riquezas sem par, peregrinas / Construíram em teus horizontes / A mais bela das joias de Minas”. Daí ter trocado a rima: a mais bela das joias mais finas!
Como a tonalidade é aguda, ouço-o sempre cantado pelo povo a uma oitava abaixo, com a voz comodamente deitada em berço esplêndido.
E vamos nós, cantando pelos caminhos, aplaudindo Uberaba e dignificando nossa terra, com a primeira prefeita, Elisa Araújo, em seus duzentos e um anos de História!
Arahilda Gomes Alves