ARTICULISTAS

Hinos que não se cantam mais

Arahilda Gomes Alves
Publicado em 10/12/2022 às 16:42Atualizado em 26/12/2022 às 22:54
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Há muito que as noções de valores caíram no ostracismo. Esses Brasis, que no meu tempo de estudante possuíam as cores vivas do verde-amarelo “sereno e belo”, em que as canções motivadas por Villa Lobos ecoavam por rios, montes e vales, porque obrigatório o ensino do canto em coro nas escolas, desbotaram-se, tornando-se tão cinzentos e sem brilho.

Ainda assim, se os cantos em coro traziam mensagens cívicas, na formação de valores e de patriotismo despejando amor à pátria, através de suas mensagens, hoje tentam bani-las dos currículos. Por quê? Os valores são outros. Os hinos pátrios foram esquecidos; as mensagens, deterioradas por insensíveis; tanto quanto a Bandeira, queimada e rasgada em praça pública por uma geração desordeira.

Pincei algumas frases de nossos hinos pátrios: “Ou ficar a pátria livre, /Ou morrer pelo Brasil” (“Hino da Independência”). “Seja um hino de glória, que fale/De esperanças de um novo porvir” (“Hino da Proclamação da República”). “Salve lindo pendão da esperança.../tua nobre presença, nos traz à lembrança, a grandeza da pátria” (“Hino à Bandeira”). “Brasil, de amor eterno, seja símbolo/O Lábaro que ostentas estrelado...” (“Hino Nacional”). São os autores, pela ordem: Pedro 1 e Evaristo da Veiga. Leopoldo Miguez e Medeiros de Albuquerque. Lembrete a esclarecer: nos albores da República, em concurso, fora este o escolhido como “Hino Nacional”. Mas o povo não o aceitou, ficando com menção honrosa de “Hino da Proclamação da República”. O nosso “Hino Nacional” com música já existente, na monarquia, acatado pelo povo, era sempre executado nas comemorações, adaptando-se letras acordantes ao que se comemorava. Em decisão do Marechal Deodoro, abriu-se concurso para a escolha da letra que melhor se adaptasse à música de Francisco Manuel da Silva, saindo vitorioso Osório Duque Estrada. Nosso grande Carlos Gomes fora convidado a compor, mas, em respeito a D. Pedro, que o premiara com bolsa de estudos na Itália, não aceitou a honraria como fiel monarquista.

Pois é, que geração é essa, em que o berrante da concupiscência, o olhar da ambição e do interesse próprios, o caminhar de uma educação, onde o físico e a mente se afogam em desordenadas interrogações, ante maus exemplos, canta a moral de quem nada quer passar a limpo, afixado no quadro negro da História, emudecida de entusiasmados hinos pátrios?

Arahilda Gomes Alves

 

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