Dias destes, acordara depois de boas horas de sono e, como sempre, agarrei o celular para ficar a par das últimas notícias.
O rádio desaparecera por volta de 1950 e, airosa, surgiu a TV brasileira, que me levou a escrever o show apresentado em antiga casa de dança, em benefício do Asilo São Vicente de Paula, que meu pai fundara na época, junto a pessoas solidárias. Intitulara-o “Quem te viu e quem TV”.
Ao acertar com o proprietário o lucro auferido, para surpresa, contara-me que quase nada eu lucrara, porque um de nossos “artistas”, em desabalada corrida para se apresentar, “esbarrara” nos garçons carregando bandeja com garrafa de licor Cointreau e taças de cristal, alegando grande prejuízo. Inocente, acreditei na “história”, sobrando pouco da doação e confessando à casa de caridade o fato mal contado do proprietário daquela casa de shows.
Fiz o adendo acima e aqui retorno às lembranças. Estou no celular à cata de notícias no WhatsApp, como no Facebook, onde deparo com campo limpo, não me trazendo nenhum fato novo. O que teria acontecido? O celular continuava vazio! Passei o dia vigiando-o, sem que nada de novo surgia. Chi! Pensava eu, meu celular estragado é o caos!
Sentira-me afastada da comunicação, que, veloz, nos mantinha comunicativos até antes da TV. Como a pressa é inimiga da boa causa e absorta em meus cismares, dei tratos à bola, aceitando as frases feitas: “o silêncio é de ouro”. Bastante ligada ao exercício vocal, acrescentei: mas se o silêncio é de outro, a voz é mais preciosa! Voz, oh voz, onde estás que não respondes?
De braços dados a Castro Alves, forjara a frase acima: Deus, oh Deus, onde estás...
A tarde corria à solta em cochichos que o vento levava para alcançar o poente dourado. Consultei, novamente, meu amigo celular, que, condoído, resolvera parar de brincar comigo e estampava, ante tantas cutucadas, a frase: modo avião.
Ué, as viagens aéreas se desdobravam atenciosas!!! Eis o meu cartão de embarque. Satisfeita, enveredei-me pelas nuvens a voar no vasto céu!
Arahilda Gomes Alves
Vice-presidente da ALTM em 3ª gestão