O mundo da tecnologia nos acostuma a mudar hábitos que curtimos desde a infância. Às vezes, até o estilo. Palavras curtas ganham pequenos espaços, menos tempo, entendimento, levando os blogueiros ao raciocínio mais rápido. Bom para uns, difícil para outros, obrigando a estes a ler mais... livros, que nos levam a pensar, ensinou o Poeta dos escravos.
Ao acordar, vamos ao WhatsApp, atrás de notícias de familiares e amigos. Depois, durante o café, correr os olhos nos jornais do dia, até as palavras cruzadas, fugindo do mal de Alzheimer.
Como mudamos para casa mais ampla, na mesma rua dando espaço para caminhadas repetidas em volta da piscina e no corredor externo, ainda estou colocando livros, DVDs, fitas cassete nos lugares, já pensando a quem doar...
De surpresa em surpresa, esboço de um livrinho infantil de minha netinha, Giovanna, feito aos nove anos, que me despertou dar-lhe forma futura, depois dessa Trilogia – “A menina que…gostava de cantar...semeava poesia...pensava demais”. No prelo, a lançar no FLI, de junho, em Portugal. Um só tomo com três histórias interligadas. Para leitores de oito a oitenta anos! Outro, motivado por irmão jornalista, que conviveu com Carlos Lacerda, no jornal “Tribuna de Imprensa”: “Os segredos que o mano me revelou”. E aquele, infantil, também sonhado.
Sorri ao deparar o formato e o título do livrinho: O nome dela é Giovana. Com oito páginas, letras de forma, traz ilustrações desde a capa e nas folhas internas acordantes ao conteúdo: 1- História de uma netinha. No “pé” da página: Autora: Giovanna. Ilustradora: Giovanna. Na folha seguinte: “Era uma vez uma menina que nasceu a 28 de novembro de 2002”. Abaixo, mais uma ilustração de uma garota com uma bonequinha nos braços.
Fui crescendo... Aprendi a andar e a falar. A cada página, ilustrações, bem motivadoras... A contar 1, 2, 3... Fui fazendo 1, 2, 3, ...9 anos. E na outra página: Amando minha família. E mais uma: Outro dia, minha mãe me apresentou para a minha família!
Comparei os dias de hoje com aqueles em que vivemos e repassamos às gerações ligadas ao cordão umbilical com lastros respeitáveis de consanguinidade. O desenvolvimento normal de um ser desabrochado em meio a costumes, à ética e à moral. Que brincava sadiamente. Cabecinhas pensantes em meio à vida, felizes, sem arquitetos da inveja e da hipocrisia. Companheiros curtindo a família e a pátria, berço de histórias exemplares. Hoje, difícil de formatar imagens diferentemente saudáveis ante exemplos escabrosos, atividades monstruosas, ações duvidosas. Tudo se tornou agressivo, até brincadeiras de criança, levando a óbito. Parece que a natureza, enfurecida, caminha aos pares com tamanhas barbáries.
Abro uma gaveta para desocupar espaço. Lá deparo com carta datada de 1980. Tia saudosa, Zilda Novais, irmã de meu pai, filiada à Academia Feminina de Letras, em Belo Horizonte, e comentando, feliz, meu primeiro livro: “A voz que pensava demais”. Se o primeiro livro traz, nas entrelinhas, um pouco de nossa História, segundo dizem, traçamos, na eloquência do silêncio, nossos sonhos a que damos continuidade de um fazer idealista e corajoso. Somos encenadoras e expectadoras no palco da vida. Mesmo que caia o pano, no final do último ato, há sempre aplausos de reconhecimento, que a história perpetua arquivados nos escombros da memória!
Arahilda Gomes