ARTICULISTAS

Operário-cultura

Arahilda Gomes Alves
Publicado em 25/10/2023 às 18:40
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A cultura é a realidade da comunidade em que se vive. É gestão democrática com público alvo definido dando direito ao bem-estar social, onde trabalho e lazer desempenham papéis coadjuvantes. Ela resgata tradições referenciando identidades. Tão questionável, porque, oriunda de um processo lento, mas latente, necessário se torna o cerne que a arrebata – a sensibilidade –, mexendo com nosso fazer, na linha do intelecto e da psique.

Pode o interesse sobrepujar a arte histórica. Quanto dó e indignação àqueles que não são visionários, que, mais homens de negócio, não transitam pelo hemisfério secular da arte – cultura tornando a vida mais amena e menos estressada, mais estimulante, saudável e acolhedora e menos inóspita e acomodada.

Ela descentraliza o fazer dos muitos operários – padrão da cultura. Do poeta Eliot, inquestionável verdade: “A criação em todos os níveis constitui-se como o filão principal do projeto cultural.” Daí ater-se a valores culturais de forma democrática, enriquecê-los, porque a criação e a produção artística se esbarram em interferências ligadas ao meio em que vivemos. Sofre influência de todas as áreas do conhecimento humano.

Enriquece-se nas experiências do cotidiano redefinindo objetivos, abrindo perspectivas que os encorajam redescobrindo valores. Se o homem – único agente vivo da cultura – “perde” a dignidade, desvia-se do objetivo amplo da cultura. Mascará-la é fazer da ação cultural uma cidadania às avessas. Cultura não é só agregada à Educação, Esporte e Turismo. Gera emprego e conhecimento. Se a cultura de paz é sonho, utopia, na visão poética da advogada e cônsul da Paz pelo mundo, Delasnieve Daspet, essa paz é por isso mesmo viável.

Relembro aqui o poder criativo da cultura, transformando sonhos em realidade através dos muitos projetos, quando professora do Conservatório, e deixando um registro através de fatos e fotos no saguão de entrada da Escola, objetivando cultura histórica, qualidades éticas, morais e sociais. Numa das idas lá, depois de aposentada, alteraram-no totalmente “copiando-se” o que criara e alegando que os cupins “devoraram” os quadros. Indignada, escrevi artigo a respeito – Os cupins comeram cinquenta anos de História! Outra: o projeto de ópera sintetizado e traduzido com cantores da terrinha e que a Fundação Cultural abraçou está “dormindo” nas páginas da História, porque tentaram descaracterizá-lo como se fora propriedade de outrem, inclusive desaparecendo com três malas de vestimentas lá “guardadas”. Muito estranho pra quem “mexe” com cultura! Educa-se no ambiente familiar e nas escolas, no combate à violência, à falsa propriedade de quem copia e não cria, sem medos e traições.

A nossa Academia de Letras recebera, final do ano, visita do saudoso presidente Antônio Carlos Marques, pessoa transparente, que seguira os anseios dos cultores da arte. A Uniube, na pessoa do reitor Marcelo Palmério, entregou-nos a chave por dez anos de comodato de uma sede, empenho do colega, que a ele recorreu reiteradas vezes e com coragem de empreendedor, o acadêmico João Eurípedes Sabino. Já começamos de casa nova naquele ano.

A Lei Rouanet, que hoje mudou de nome para Paulo Gustavo, pode “sacudir” agentes através de elaborados projetos, que demandam paciência, coragem e idealismo. Caminho das pedras direcionando para incentivos fiscais que a Lei faculta, não isentando de taxas e impostos o “operário cultural” na refrega de seu doce lidar.

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