ARTICULISTAS

Palavras, palavrinhas e palavrões

Arahilda Gomes Alves
Publicado em 09/06/2022 às 20:39Atualizado em 18/12/2022 às 20:17
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Minha agenda fixava data de três anos atrás. Recheada de apontamentos, lido com três delas, conforme assunto, porém. Horário de aulas de alunos de canto, poemas e outros exercícios poéticos dos Poetas del Mundo, onde estou filiada, bons e-mails merecendo retê-los para reflexão. Folheando um deles, preciosidade – no rodapé de cada página, pensamento filosófico creditava ao autor sábias palavras. De Antoine de Saint-Exupéry: “É apenas com o coração que se pode ver direit o essencial é invisível aos olhos”. O mundo atravessa situações às avessas. A sensibilidade cedeu lugar à estupidez, palavras não mais se associam aos gestos. Atiram-nas ou amordaçam-nas conforme interesses. A cadência, que as envolve em inflexões de sublime conteúdo; outras forjadas em balões de ensaio, segundo a época de loucuras em que vivemos; falhas de sensibilidade gerando formação doentia, apoiada em drogas, malquerenças e individualismos.

O coração não é mais poeticamente condensador de mensagens, guardião de benevolências, mas crua e fisiologicamente órgão a levar nos muitos caminhos que percorre o sangue em sístole e diástole. Ainda sanguíneo, sanguinário, porém. A natureza acoplou-se à humanidade enraivecida. Envaidecida em mirabolantes feitos, espalha ações impunes, porque os poderes da força se tornaram força de poderes.

Se persistirem palavras reflexivas, tornam-se palavrinhas misturadas a palavrões. O filho da mãe, que não precisa de exame de DNA, subtende o filho da p.... O “vá tomar banho” com inflexão raivosa deixou de ser o chamamento carinhoso de mãe para filho, ato de asseio e saúde... Os próprios vocábulos que enfatizam esta crônica, de variadas inflexões preenchem laudas e agendas. As Bibliotecas, modelos para outras instituições congêneres. Locais de silêncio perscrutador, eloquente, imagem viva da criação, oásis onde se sacia a curiosidade intelectiva e afetiva. Imagem a nos levar à inquietude de palavras formantes do saber. Meios salutares do pensamento produtivo. Berços de acalantos a acordar palavras adormecidas criando corpo, imagem saltitante e reflexiva em sopros de inspiração.

Arahilda Gomes Alves   

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