Nunca chegou tão rápid já é tempo do pré-natal! Não sei se é a Terra com seus movimentos de rotação e translação ultrapassando quilometragem permitida, sem que o radar escondido entre as nuvens os perceba ou se é o Bom Velhinho Noel, que ansiosamente quer esvaziar o saco, cheio de atribulações, congestionado pelas intempéries catastróficas da natureza e da humanidade. Suas renas já não suportam toda a carga. Pedidos de paz, saúde e felicidade soam ocas saturadas de um repetir da boca pra fora. Pessoas correm às lojas sobraçando embrulhos e os entregam, antecipada e impacientemente. Festas de confraternização “pipocam” por todos os lugares. Sinos tangem canções natalinas, ansiosos na conquista de corações empedernidos.
Noel anda incrédulo com os adultos. Mas, com as crianças, redobra-se de carinho. Pelos anos afora, épocas natalinas, demonstra ao adulto, que é através do bom exemplo que a criança crescerá sadia e sem medo. Puxa as orelhas dos grandes alertando que não é só nesse período que se deva praticar a terapia do “mea-culpa”. Que sarcasmo e orgulho de muitos jamais se ocultarão sob a carcaça da hipocrisia, que sempre condena. Sofrido, Noel vê mãos que se levantam, punitivas, aos gestos complacentes. Os ressentimentos, aos gestos de perdão. Os sarcásticos sorrisos, ao riso franco e leal. Assiste, reiteradas vezes, às perversidades sem que a justiça humana as acolha.
Desolado, ouve pregões de paz em aumentativos do perdão, da autoabsolvição, mas pratica-se a guerra. Nem bem descansa no macio tapete de nuvens azuis e brancas para o sono reparador, ouve o ribombar de canhões e armas deflagradas exterminando seres inocentes. Pálpebras cansadas e nariz, antes acostumados à visão e perfume da natureza, à brisa delicada do ruflar de asas angelicais a se contaminarem no pó de inúmeras drogas absorvidas por crianças e adultos, assassinos de si próprios e de irmãos.
Pobre Velhinho Noel, sempre confiante na humanidade, cada vez mais perversa, desafiando leis divinas e humanas! Desgastado Noel, gozando de invejável reputação perante Deus, mas reconhece que seu empenho o deixa frustrado e impaciente.
Refaz novos e incessantes pactos com Deus: pede mais um ano de moratória. E acrescenta em seu enorme saco de brinquedos, o penhor das muitas joias da bondade, da sabedoria, da sensatez, do amor...
ARAHILDA GOMES ALVES