A pesquisa constitui momento relevante. É como se descobríssemos tesouros no escavar a terra. – Quem foi Renê? Me pergunta o amigo escritor. Corro aos alfarrábios que me prodigalizaram história de cinquenta anos do Conservatório, onde trabalhei trinta e cinco. E, atualmente, chegaram aos setenta e cinco!
Com idealismo de mestra, no afã de repassar conhecimentos buscados em outras plagas e repassá-los, irrequieta, aos colegas das áreas. Um calhamaço histórico, folhas amareladas com milhares de recorte me chegam, através de um bisneto dele. E neste saciar incontrolável, a história me desvenda um caminhar passado a limpo. É como se sorvesse um vinho tinto da reflorescente Toscana, tesouro musical a ser burilado pela geração de novo século. Renato, o pai, além de professor eclético, cronista de antigos jornais da terra, escrevia sob pseudônimos de Renê e Tito. Fala de Verdi, de suas óperas, cultor do romantismo, quando do seu centenário de morte. Conta fatos hilários como o convite recebido por Paganini para um jantar em que, interpelado pelos anfitriões da falta do violino, que não trouxera, responde, desculpando-se: Meu violino não janta...
Narra que nos aniversários de morte em 1865, estes, mais lembrados que os de nascimento dos artistas, o autor do Hino que se tornara nosso “Hino Nacional”, Francisco Manoel da Silva, e que fora aluno de Newkon, não via com bons olhos quem fora aluno de Marcos Portugal, na Orquestra da Real Câmara, que dirigia. Supondo-o rival no violoncelo, exigiu que estudasse violino sob pena de dispensá-lo da orquestra.
Ainda se pensava que a “Marcha Triunfal”, que mais tarde seria nosso “Hino Nacional”, nascera quando da abdicação de Pedro I, mas os estudiosos remontam-no ao ano de 1822, quando da proclamação da coroação de Pedro II, adaptando-se várias letras de acordo com o que se queria comemorar... Interessante que, em 1841, Francisco Manoel funda o Conservatório de Música do Rio, custeado por dezesseis loterias! E, em 1847, o governo Imperial aprova o ensino do Canto para homens e rudimentos dele, para mulheres. Dentre os cantores, o escritor Joaquim Nabuco e o presidente Rodrigues Alves.
Em 1937, Renato narra a vinda da Companhia de ópera de Dora Solima, em brilhante crônica da coluna Musicalia, no Lavoura e Comércio. E com o fechamento do jornal Sorriso, onde escrevia sob pseudônimo de Tito. O sumo Verdi, um dos maiores compositores do período romântico com individualidade própria, alça o gênero à expressão e perfeição máximas. Rigoletto, a décima sexta ópera, e “La Traviata”, dois anos depois. Fala do “Barbeiro de Sevilha”, criada por Rossini em dezesseis dias, e da “Lucia de Lammermoor”, de Donizetti, uma das setenta desse autor e que nossa Uberaba de outrora assistiu a elas através da Companhia de óperas aqui citada, sendo a própria Dora a protagonista.
Renato Frateschi termina o artigo elogiando o trabalho dos participantes, que aqui aportaram sem estardalhaço, recebendo a admiração de todos pela simplicidade que acompanha os grandes nomes, não se impondo orgulhoso e frivolamente, ao grande sucesso!