Inventário de Natal
Foi-se o Natal
Evocando o Salvador
Mesmo sem manjedoura
Esboçado em laçarotes
Fitas e comilanças
Apostando em esperanças
No ano que vai nascer
Porque eternas crianças
Somos sem exagero
Os mais ternos do planeta
Soltando sempre “os capetas”
Em meio à neve inventada
E sob as barbas do Velho
E sem mensagem forjada
Façamos nesse inventário
Reflexos pra novo espelho!
*
Retoques
A vida retoca-se a cada dia
Precioso elemento
Obra de arte
Espatulada pelo dedo de Deus
A cada amanhecer
O milagre se renova
Oblação no culto à vida
Em comunhão universal com o bem
Jogo minha imagem ao infinito
A finitude rasteja
Na fugacidade do tempo
Pedaços espalhados ao longo do caminhar
Esperanças que se renovam
Brisa que o vento açoita
E as ondas do mar vêm beijar...
*
Velho Noel
Quando te vejo chegar
Rugas expostas ao vento
Barba esbranquiçada pelo tempo
Trôpegas, as tuas pernas
Que não podem mais correr
Fecho-me ao meu cismar:
Já nem carregas mais
O saco de brinquedos!
Onde, os pedidos
E os desejos confiantes?
As crianças nem sonhos têm!
Vivem crua realidade
Estatuto é novidade...
A TV desenha nelas
A fantasia do medo
A fraternidade em degredo
No canal da omissão
Velho Noel, os adultos
Não mais têm coração
Desfizeram-se em maldade
Covardia, ambição
Trancafiaram a razão!
Fizeram dos semelhantes
Um robô de estimação
Ah, Noel, tu tens de vir mais vezes
Para sanar os revezes
Da suposta humanidade
Sei que estás acabrunhado
Neste ano mal-acabado
Mas, se não fosses tu trazeres
A mensagem acalentadora,
Como se faria ouvir
O som eloquente das vozes
Que insistentemente
Ainda cantam “a PAZ”!