Walderez de Barros, que interpretou Judite na novela de sucesso “O Rei do Gado”, reprisada quase vinte anos depois em “Vale a Pena Ver de Novo”, fez há tempo depoimento experiente: “a voz é o sopro da alma”. Thomas Mann analisa a personagem Doutor Fausto, de sua autoria, revelando que a voz humana pode ser abstração do homem parecida com a do corpo desnudado.
Atriz Valderez acha perigoso “mexer” com a voz, acreditando não se tratar de mera emissão do som. Quando iniciou no teatro, achava sua voz pequena e sem potência. Por ser tímida, encontrou dificuldades de comunicação. Acreditava que sua voz não acompanhava a intensidade de suas emoções. Dizia ser a sua alma soprando frágil com receio de se desnudar. Começou a estudar o canto lírico, ampliando sua tessitura e dando elasticidade através de exercícios para sua devida extensão. Antes, acreditava ter uma tessitura grave.
Voz e fala acham-se interligadas. Pressupõe-se a expressão literária teatral sem se prescindir da palavra, que bem expressa um pensamento formado no mundo imaginário das sensações.
A comunicação verbal é reflexo das condições socioculturais do país, onde carece tradição de cultura erudita. Noções gramaticais tornam-se pouco conhecidas. Também, o texto escrito difere do falado. A pontuação, principalmente a vírgula, torna-se perigosamente compreensível, se não souber dar a ela a devida respiração. A inflexão da fala está na pontuação.
Continua ela: a palavra em cena não é um jogo de letrinhas. A técnica, o bom senso e a inteligência colaboram na comunicação verbal.
Parágrafo que faço para abordar o dispendioso trabalho vocal provocado por professores em salas de aula com número excedente de alunos, correntes de ar ou ar-condicionado ligado. Tomam ares de oradores ou gritam empurrando a voz, tornando-a metálica, estridente, cacofônica, inadequada, e sobrando, na aposentadoria, uma voz artificial e rouquenha, enfraquecendo-a.
Repetidas vezes, dos muitos Congressos a que fui, sempre de caráter internacional, colocaram a hidratação e a respiração nasal como fatores importantes na boa produção sonora.
O bom profissional deve dar à voz todo o cuidado, empregando-a como inerente à aparência não só física, como mental e intelectual. Os nervos que a definem trazem tamanho e espessura, de onde se basearam os instrumentos para seu timbre peculiar. Contrariar a natureza humana, procurando tonalidade artificial não adaptável à voz de cada falante/cantante, é “assassinar” o que temos de mais fecundo e revelador da alma humana.
Arahilda Gomes Alves