Onde eles estão?
Misturados em meio à atmosfera?
Espreitando-nos em todos os nossos momentos, até os mais secretos? Mergulhados em nossos pensamentos?
Ou vivos apenas em nossas lembranças?
Qual o destino de nossos mortos?
É claro que a matéria está depositada em algum cemitério, onde jazem os restos mortais sucumbidos por vermes e larvas. Mas não é o endereço da matéria que me interessa nesse momento e sim o do espírito, da alma.
“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; (João 11:25)”. Assim creem os católicos. Os espíritas defendem a reencarnação. Mas não quero entrar no mérito religioso, em respeito àqueles que em nada acreditam.
Quero aproveitar o momento para falar de sensações, emoções e saudades. É difícil acreditar que para o resto de nossa existência não teremos mais a presença de pessoas amadas que já se foram. Passamos boa parte de nossas vidas ao lado delas e de repente “puf”! Elas evaporaram. Na casa fica o vazio, a sensação de que a qualquer momento ela entrará porta adentro, mas essa porta nunca se abre pelas mãos dela.
Dormimos e pensamos: será como é do outro lado? Onde estará mamãe e papai? Onde estará minha amiga “Dudu” que tanta falta faz? Até que o sonho chega e dormimos sem a resposta. No sonho, vez por outra eles vêm nos visitar. Aparecem sorrindo, serenos, como se quisessem dizer: estamos bem, fique firme que daqui a uns anos é você que vem (tô fora!)
Pode passar o tempo que for que a lembrança continua latente e o coração bate apertado quando nos lembramos de nossos mortos. Já tentei fixar os olhos em uma cadeira vazia e pensar positivo que a imagem de minha mãe iria brotar ali na minha frente. Que nada! Minhas vistas se embaçaram e a cadeira continuou ali... vazia.
Mas aprendi que se fecharmos os olhos e tentarmos sentir a pessoa amada, algo de estranho acontece. Realmente a lembrança fica mais viva, sentimos um calorzinho aquecendo o nosso corpo. São eles que nos afagam. Quando também estamos preocupados, apavorados e encontramos uma saída para os problemas, tenho quase certeza de que são eles intercedendo por nós.
Os nossos mortos fazem parte de nossas vidas. Não conseguimos vê-los com a visão fisiológica. Conseguimos senti-los. E é por senti-los tanto que busco dar sequencia à vida de uma forma leve, compartilhada, na certeza de que hoje a mamãe conhece o mar, mesmo não tendo conhecido em vida; hoje o papai consegue enxergar tudo, mesmo tendo perdido a visão antes de morrer e a Dudu não tem mais dores.
Assim seguimos com os nossos mortos e reverenciando os nossos vivos para que tenham a oportunidade de viver bem e fazer o bem como os meus mortos fizeram.
(*) Jornalista, mestre em Educação, professora da Universidade de Uberaba