ARTICULISTAS

Os meus saberes

Quando era criança, nos idos da década de 1970, lembro-me de brincar de escolinha com os irmãos e primos. Gostava de ser a professora, e não admitia que me chamassem de tia, tinha de ser PROFESSORA. O

Celi Camargo
Publicado em 07/11/2009 às 10:41Atualizado em 20/12/2022 às 09:36
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Quando era criança, nos idos da década de 1970, lembro-me de brincar de escolinha com os irmãos e primos. Gostava de ser a professora, e não admitia que me chamassem de tia, tinha de ser PROFESSORA. O tempo foi passando e assisti a brincadeira se repetindo entre as gerações seguintes. Neste novo século presenciei a mesma brincadeira entre minha filha e as colegas. Só que desta vez, as crianças não tinham cadernos, eles foram substituídos por computadores, que cada uma trouxe emprestado dos pais. Enfim, a brincadeira continuou a mesma, porém bem mais moderna. Disso tudo restou em mim uma herança muito grande. Sou filha de professores e sempre ajudei a corrigir provas ou a lançar notas nos antigos diários. Não digo que esta convivência foi o passo determinante para que eu me tornasse professora, mas acredito que, mesmo inconscientemente, ela ajudou. Seguindo a minha intuição, no Ensino Médio, cursei simultaneamente o Colegial e o Magistério, julgando que esta última formação não resultaria em nada. Ledo engano.   Na graduação segui carreira no jornalismo. Trabalhar com a informação, lidar com fontes e transformar fatos em notícia requerem muita ética, experiência de vida, cultura e sensibilidade. No que essas características se diferem das que deve possuir um professor? Não quero aqui tentar forçar algum tipo de semelhança entre as duas profissões, mas pretendo chegar no ponto em que uma completa a outra.   Voltando ao Magistério pude colocar em prática o que havia aprendido na formação técnica, dando aula no Ensino Superior, como professora de jornalismo. Primeiramente tive contado com o currículo e as ementas das disciplinas com as quais iria trabalhar. Tentei traduzir a linguagem e conceitos científicos, aplicando-os à realidade profissional e ao contexto local onde estava inserida. O segundo passo foi traçar o perfil das turmas com as quais iria trabalhar, saber o que almejavam e o que esperavam da disciplina, para só então, de acordo com o perfil de cada uma, propor o método de trabalho.   Nesta transição de mercado de trabalho para a carreira docente foi inegável a contribuição de profissionais mais experientes, para a minha formação dentro do novo trabalho. Poderia batizar este processo como uma gnose, em que como num ritual de tribos, os mais velhos ajudam os mais novos a se iniciarem, passando a eles os “macetes” da profissão.   Sempre conciliando a prática jornalística com a docência, percebi que bebia na fonte da experiência e dela tirava os exemplos para trabalhar a formação dos alunos. Através dos muitos vieses que envolvem a comunicação, fui percebendo ao longo da carreira, que mais do que abastecer os alunos para enfrentar o mercado de trabalho, era preciso cuidar da formação humanística e intelectual, dando a eles condições de sobreviver às mudanças e avanços da profissão.   Assim passei a reavaliar minha prática, sistematizá-la e contextualizá-la para oferecer uma melhor formação. Essa reavaliação é uma constante. Portanto, os saberes se constituem através da formação familiar e da experiência profissional e são reforçados pelos saberes institucionais.   (*) jornalista e professora universitária

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