Faz tempo, bote tempo, que li a obra-prima da literatura brasileira “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. Pense num livro chato e desafiante de ler. O leitor quer saber o final de todo jeito. Agora, avalie estudar o autor, como fez o acadêmico Éverton Barbosa Correia, irmão do meu amigo de trabalho Wellington, no livro: “Joaquim Por João: Cardozo na Poesia de Cabral”, e me presenteado.
Mas o que quero enfatizar é exatamente sobre a morte, que se não for pela vida, ela não existe. Vivem e morrem em simbiose. Uma depende da outra e não podem se vangloriar e nem menosprezar. São irmãs siamesas. Ali ó, unha e carne. Tomé e Bebé.
Quando da separação, dar-se de várias maneiras. Acidente, assassinato, doença, e por aí vai. Contudo, para ser mais específico, houve duas mortes, uma por esses dias e outra há poucas horas, que merecem ser analisadas como que a uma autópsia moral.
Lá pelos lados da terra do Tio San, um pregador da palavra de Deus, defensor de God, Homeland e Family, fez uso de arma de fogo para tirar a vida de uma deputada estadual, defensora dos Direitos Humanos, e, de lambuja, do seu esposo. Fora a lista que não era pequena de outras possíveis vítimas.
A outra morte se deu aqui, aqui mesmo, pertinho do meu trabalho, quase embaixo do viaduto Damásio Franca. Quando um técnico de enfermagem, a caminho do seu trabalho, foi desviar sua moto de um carro e um ônibus o atropelou. Poupá-los-ei dos detalhes.
A questão é: segundo alguns, o primeiro tem a sua salvação garantida. Seu nome está escrito no Livro da Vida. Já o outro, coitado, que trabalhava salvando vidas, está queimando agorinha mesmo no inferno das cuias. Seu crime? Ser gay ou efeminado como se apresenta.
Deus que me livre de estar no céu com o norte-americano pregador de morte. Sem dúvida, no inferno estarei em melhor companhia. Sem correr risco de vida.