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A cruz e o mundo

Dom Paulo Mendes Peixoto
Publicado em 15/03/2024 às 21:32
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A cruz é símbolo de sofrimento, é sinal de fé e de vida. A morte de Cristo numa cruz se tornou sacrifício de redenção. O cristão olha para a cruz com sentimento de confiança na redenção do mundo, às vezes mergulhado numa visão puramente tecnicista. Isto significa perder a dimensão da vida, que vem pelo caminho da morte. É a via divina por onde passa o processo quaresmal de purificação.

 A raiz da cruz de Cristo está no Decálogo que, no Antigo Testamento, estava gravado em tábuas de pedra. Agora, a gravação é no coração das pessoas, não mandamentos de condenação ou não, mas de misericórdia e perdão, com a possibilidade de poder chamar a Deus de Pai. São mandamentos que levam a um compromisso de construir a amizade social, de convivência e fraternidade no mundo.

A prática da cruz surge do coração humano, como dom de Deus, como compromisso de construir um mundo marcado pelo amor e pela convivência espiritual e social. Dentro do contexto da nova aliança com Deus, o ser humano está no centro da ação missionária da Igreja. Não existe verdadeira missão no mundo sem a presença da cruz de Cristo, que alimenta a fé e umedece o vigor da planta.

Para gerar um mundo acolhedor, sem violência e de paz, as pessoas, sustentadas pela fé em Deus, necessitam fixar os olhos na cruz do Cristo ressuscitado e presente na história dos povos. É um caminho de esvaziamento em relação às paixões do mundo, dando espaço para construir uma cultura de maior compromisso com a vida humana e com toda a natureza criada, que a envolve.

Jesus compara esse esvaziamento diante das paixões com a parábola do grão de trigo. Ele cai na terra e morre, para daí nascer um novo broto e produzir mais trigo ainda. É como dar a vida por um mundo melhor. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Dar a vida é esvaziar-se, violentar-se contra si mesmo para que o outro tenha dignidade e vida.

A Páscoa deverá ser expressão concreta de doação, de amor eterno, como tendo chegado a “hora” de Jesus, o tempo da salvação profetizada na longínqua história do passado. É no mundo da cruz de Cristo que brilha a beleza da redenção, do amor vivido nas suas últimas consequências. Portanto, na cruz e no mundo acontece a realização da Aliança e do plano salvador da humanidade.

 Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba

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