Esta é uma expressão bíblica do relato da transfiguração de Jesus Cristo, num momento de oração numa montanha da Palestina, na presença de alguns dos seus discípulos (cf. Lc 9,36). Era a voz do Pai e com a presença do Espírito Santo, que, no batismo de Jesus, desceu em forma de pomba (cf. Mc 1,10). Assim é o espírito da Quaresma, que nos conduz para a realidade da Santíssima Trindade.
Devemos ouvir a voz do Pai, que nos convoca a segui-Lo. É a voz da Quaresma e da Campanha da Fraternidade, que está contida na espiritualidade de conversão interior e na mudança de atitudes em relação à preservação da natureza. A dignidade e a possibilidade de existência da vida humana estão condicionadas ao que fazemos para defender a terra, a qualidade da água e a pureza do ar.
Convivemos com as imperfeições, misérias, deficiências e as incompreensões contidas na história da vida humana, e ainda com os desmontes decorrentes dessa realidade. Evolução tecnológica de um lado e destruição da natureza de outro, exigindo da nova cultura uma postura abrangente de consciência ecológica, de recuperação da natureza agredida e perdida nos idos dos tempos.
É fundamental olhar para o modo como tratamos as “coisas” de Deus. Não existe verdadeira obra de caridade em relação ao outro se não trabalhamos e colocamos em prática as exigências da ecologia integral. Na origem, “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31), conforme o lema proposto pela Campanha da Fraternidade deste ano. Todo ser existe em relação ao outro e nada pode ser descartado.
Para o apóstolo Paulo, todos somos cidadãos do céu, porque nossa verdadeira cidade está lá, em Deus (cf. Fl 3,20), mas ela é construída durante a peregrinação que fazemos na terra. Então, a ecologia integral inclui também as realidades divinas. Em outras palavras, cuidar da natureza terrena significa divinizá-la. Nisto está o ensinamento de Jesus nas Palavras do Evangelho.
A transfiguração do Senhor tem uma mensagem totalmente integradora, porque une o Antigo e o Novo Testamento numa única cena. Aparecem Moisés e Elias representando as Leis e o profetismo, a história salvadora daquele tempo. Estão também ali Pedro, Tiago e João, confirmando a chegada de novos tempos, de continuidade da ação salvadora de Deus, em Jesus Cristo, para o hoje da história.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba
