Primeiro, é preciso ter sabedoria para entender a expressão “governar com sabedoria”. Em todos os tempos e espaços, onde está presente o ser humano há necessidade da prática da governança, de quem assume o compromisso sério de administrador dos bens da sociedade, harmonizar os ânimos e cuidar da coisa pública. Governar é ter poder, mas precisa ser entendido como serviço confiável.
A literatura bíblica do passado apresenta a maneira de agir de Salomão, que pede a Deus sabedoria para governar seu povo de forma acertada. O texto valoriza sua atitude ao pedir sabedoria, e não riqueza ou vida longa. Acaba que Deus acolhe seu pedido e lhe concede também riqueza, fama e vida longa. Sinal de uma autoridade que tinha um poder vindo realmente pela vontade do Senhor.
Vemos no Rei Salomão um modelo de espiritualidade e de humildade, alguém que realmente exerceu uma verdadeira política, de boa administração, com capacidade e habilidade para ouvir os anseios do povo. Essa prática vem do coração, que não depende de muitos títulos acadêmicos, mas de generosidade e sabedoria divina. Que esse modelo seja seguido pelos nossos governantes.
Se a sabedoria vem de dentro do coração, todos podemos ser predestinados ao serviço da governança. Antes de tudo, governar a nós mesmos, que já é um grande desafio. Somos convocados para eleger os nossos governantes numa cultura democrática, mas supõe também sabedoria, porque o verdadeiro poder vem de Deus, que passa pelo sufrágio consciente e livre dos eleitores.
O Reino de Deus pode ser entendido como uma pátria a ser reinada e construída, identificado por Jesus como um tesouro a ser bem cuidado. O alvo da governança de um reino não pode ser de interesse particular e mesquinho, porque ele é de todos e deve ser governado com a sabedoria divina, isenta das ideologias radicais e extremistas, que impedem o exercício do bem comum.
Governar com sabedoria é querer mudar a vida das pessoas para uma condição melhor e contar com o envolvimento de todos sem preferência particular por esse ou aquele grupo. A pátria é como uma rede que abarca a todos, porque os direitos individuais são iguais. É desumano um governo, numa visão de Reino de Deus, olhar para as pessoas e as valorizar pelo que têm em bens materiais.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba