O Grito dos Excluídos acontece no Brasil desde 1995, a partir da 2ª Semana Social Brasileira da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Portanto, é uma iniciativa da Igreja Católica, com objetivos bem claros, olhando para a população mais carente. É o conjunto de manifestações populares durante a Semana da Pátria, culminando com o Dia da Independência do país, 7 de setembro.
O Grito tem, então, a pretensão consolidada de valorizar a vida humana e anunciar a esperança de uma sociedade cada vez melhor. Para isto, denuncia todas as injustiças contra o povo e tudo aquilo que desagrada e mata a vida, principalmente causada pela enorme desigualdade econômica entre as pessoas, ocasionando o crescimento da distância entre os ricos e os pobres.
As manifestações constituem privilégio espaço público de luta por direitos básicos da vida: a saúde, a educação, a habitação, alimentação, segurança, transporte, lazer, etc. Na verdade, é luta por mudanças estruturais na sociedade, como inclusão social, econômica e provocar autênticas políticas públicas que ajudem concretamente as populações pobres, em sintonia com as Semanas Sociais Brasileiras.
Não podemos ficar numa posição de conivência com uma cultura marcada por aqueles que sofrem de carência absoluta, das condições mínimas para ter vida digna, ao lado de quem detém grandes privilégios, com acúmulo de riquezas, dentro de um sistema capitalista fortemente de marca desumana. Desta forma, é impossível consolidar uma democracia que seja saudável nas relações afetivas.
Estamos em um dos países mais desiguais do mundo, situação que teve um forte agravamento nos últimos tempos, aumentando a concentração de renda de forma brutal. O povo sente essa realidade de desigualdade, mesmo num país que se destaca como um dos maiores produtores de alimento do planeta. Por isto, é muito difícil entender por que tantas famílias passam fome no Brasil.
Neste ano de 2023, celebramos a 29ª edição do Grito dos Excluídos, com o tema: “Vida em primeiro lugar”, e o lema, muito atual: “Você tem fome e sede de Quê?”. A vida é dom de Deus e deve estar em primeiro lugar na sociedade. Mas tem sido ameaçada em diversas circunstâncias, principalmente no cinturão da fome. Temos que gritar diante da má distribuição dos bens da natureza.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba