Não é saudável caminhar na escuridão, de olhos vedados e mente poluída de muitas sombras. Os malvados preferem que seja assim, porque não conseguem degustar a beleza da claridade, da honestidade e de uma vida regularmente focada na transparência. Infelizmente, essa é a realidade do submundo da cultura dos povos, em harmonia com as injustiças, o desrespeito e a violência.
Dizemos ser Deus a luz que ilumina a vida daqueles que não têm nada para esconder e nem se envergonhar. A luz divina é como um chamado para a pessoa construir o bem da humanidade. Por isto, costumamos entender que todos aqueles que estão munidos de uma autêntica autoridade essa autoridade vem de Deus e exige claridade, justiça, honestidade e transparência na administração.
Devemos ter consciência de que Deus não se deixa conduzir simplesmente por aparências, porque conhece o coração das pessoas e denuncia os vários desvios causados por uma conduta envernizada por atitude de maquinação. Essas são práticas e desvios que fazem aflorar uma verdadeira cegueira no perfil de quem, conscientemente, as realiza. É preciso medir as consequências daí provindas.
A cegueira, na visão do Antigo Testamento, era considerada como um castigo divino, porque a pessoa não tinha condição de ler e entender o texto das leis, que orientavam a história do povo. Ser cego era e continua sendo uma deficiência, porque dificulta uma vida mais saudável em relação ao mundo. Por isto, para recriar a pessoa, Jesus realizou a cura dessa carência para dar ao cego vida nova.
Enxergar significa ter mais liberdade, autonomia, convicções próprias e ajuda a pessoa a não ser alienada diante dos problemas em seu redor. Ela, como agente de transformação, se torna luz na história humana, porque tem condição de abrir caminhos seguros para a vivência da fraternidade na vida comunitária. Um cego teria muito mais dificuldade para uma missão tão importante.
Faltando a luz, o caminho é de trevas. Temos as trevas do egoísmo, da avareza e de muitas outras situações, que se tornam vergonhosas para uma sociedade sadia e iluminada. Jesus era o Filho da Luz, mas também teve uma trajetória de luz, revelada em suas obras. O importante é romper com as obras das trevas, que são realizadas na escuridão, mas precisam estar às claras.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba