Ninguém veio ao mundo e recebeu a possibilidade da vida por acaso e sem perspectiva de futuro, mesmo que isto não tenha sido previamente planejado. O ser humano é fruto do dom amoroso de Deus e faz coro com o projeto magnífico de toda a criação. Além disso, tem uma missão essencial a cumprir, principalmente como vocação para defender a dignidade da vida em toda sua plenitude.
A missão confirma o agir e o querer de Deus no meio de seu povo. Além de criar, chama para a ação. Foi o que aconteceu com o profeta Samuel, dormindo no santuário do Senhor, ao ouvir a voz do chamado: “Samuel, Samuel” (ISm 3,4). A resposta dele foi de dizer: “Estou aqui”. O importante é a prontidão diante do chamado e confiar na providência que o Senhor proporciona para seus escolhidos.
Numa cultura de muito barulho, corremos o risco de não perceber a voz do chamado. Uma voz que pode ser confundida com vozes estranhas e dificultar o discernimento necessário. A vocação é uma interpelação para contribuir na construção do Reino de Deus, Reino de esperança, na realidade terrena. É denunciar as injustiças que corrompem o caminho de paz e fraternidade no mundo.
Se cada pessoa tem uma missão sublime a cumprir na sua história permanente de vida, principalmente trabalhando em benefício do bem comum na comunidade, ela não deverá fazer uma trajetória irresponsável e fundamentada na duplicidade e falta de transparência ou de autenticidade pessoal, porque agirá totalmente na contramão dos verdadeiros valores emanados do Evangelho.
No contexto próprio da missão, João Batista teve um compromisso inigualável, aquele de ser a voz que clama no deserto, dizendo: “Preparai o caminho do Senhor” (Mc 1,3). Seu exemplo de simplicidade foi escola de aprendizado para todos por ter entendido o papel que desempenhou como anunciador dessa realidade. Com o testemunho, João atraiu muitas pessoas para seguir o Cristo.
Toda pessoa, marcada pelo Sacramento do Batismo, tem a importante missão de ser uma clara e vibrante voz de Deus no seio da sociedade. Desta forma, deve levar os seres humanos à percepção da importância de caminhada juntos numa via de dignidade, que seja tanto física, psíquica, social, como espiritual. O Papa Francisco fala de sinodalidade, que abrange todos estes aspectos citados acima.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba