Parece ser uma expressão banal, mas, na linguagem simples de Jesus, retomada depois pelo papa Francisco em seus escritos, tem um profundo significado dentro da dimensão e da prática da fé. Jesus diz que Ele é a porta do aprisco, por onde devem passar as ovelhas, indo ao encontro do Pai. Papa Francisco diz de não fechar portas e abrir caminhos que levem a objetivos claros de vida.
Para Jesus Cristo, o Reino de Deus tem uma “porta estreita” (cf. Lc 13,24), que supõe autêntico esforço e total dedicação da pessoa para que possa entrar por ela. Passagem que exige verdadeira transformação interior, uma mudança profunda de coração e mente, dentro da dinâmica do projeto de construção do Reino eterno. Ante as imperfeições, supõe responsabilidade pessoal e misericórdia de Deus.
Porta estreita, na visão bíblica, não significa ação estática de Deus, fechada, como aquilo que impede a passagem de quem quer passar. Talvez podemos entender essa realidade como fruto de um processo histórico, que acontece durante toda a vida terrena da pessoa. Deve ser consequência dos atos realizados, diuturnamente, com maduro discernimento e escolha das coisas positivas e boas.
Ao entender o sentido da porta estreita, devemos saber que há um cuidado amoroso de Deus ao falar das pessoas, convidando-as a uma vida de retidão e de amadurecimento na prática da vida moral e espiritual. É o “hoje” da pessoa, a prática da justiça, do amor fraterno e da verdade que vão definir a dimensão real da porta, se estreita ou larga, que leva ao caminho da eternidade.
A entrada definitiva no Reino de Deus acontece quando feita no processo de conversão, de renúncia, de compromisso e de esforço pessoal para colocar em prática os ensinamentos do Evangelho. Ser cristão, ser de Cristo, não é tão fácil, mas possível, porque a salvação está aberta para todos e sem exclusão. Deus não exclui, mas espera a escolha e o discernimento de cada pessoa humana.
A vida das pessoas tem as marcas profundas, árduas e contínuas de luta e conquista, envolvida com uma sociedade onde está presente a possibilidade da prática da justiça ou da injustiça. Assim podemos dizer que a identidade pessoal se define a partir dessas circunstâncias. Mas a porta está sempre aberta para quem faz seu discernimento, escolhendo aquilo que é caminho do Reino.