Exaltar a cruz, que levou à morte de Cristo, não significa fazer um elogio referente ao sofrimento, podendo até dizer que fosse uma atitude masoquista, de prazer no sofrimento. Ela tem uma significação desafiante, humanamente falando, porque envolve uma decisão, que ultrapassa os conceitos da cultura, e chega a ser uma atitude essencialmente de amor ao próximo, morte que gera vida.
A Palavra de Deus nos leva a entender o que significa a cruz e a ter um aprendizado sobre ela. Na figura da serpente de bronze colocada sobre uma haste (cf. Nm 21,8-9) está bem presente um indicativo misterioso, porque revela, profeticamente, o que deveria acontecer com o Cristo no alto de uma cruz. Lá era a cura de quem fosse ofendido por uma serpente. Em Cristo, vida que vence a morte.
Não podemos deixar de dizer que a vida tem muitas marcas de cruzes, de sofrimento, de desânimo, cansaço, etc. Mas o sentido real da cruz, no entender da prática de Jesus Cristo, é superação de tudo que fragiliza a vida humana. “Olhar para a serpente de bronze” era receber de Deus possibilidade de vida após o ataque de uma víbora assassina. Deus não é Deus da morte, mas da vida plena.
É fundamental entender que a serpente de bronze na haste era um pedido de Deus (cf. Nm 21,8), até para dizer que a ação divina passa por aqueles sinais que tocam nossa sensibilidade. Creio ser esse o sentido mais profundo de nossas imagens. Elas são como forma de as pessoas estarem olhando para cima e confiarem mais na providência de Deus diante dos limites que as fragilizam.
A Palavra de Deus diz que quem se humilha será exaltado. Parece um paradoxo, mas esta é a realidade do projeto divino. Olhar para Cristo na cruz é olhar para cima, que só tem sentido quando a pessoa é capaz de olhar para baixo, para suas fraquezas e limites humanos. No alto da cruz, Cristo resgata quem está morto por suas fraquezas e desatenção às próprias fraternidades humanas.
Passar pelas cruzes e sofrimentos, na vida terrena, pode significar trajeto determinante para a conquista da eternidade. É o mesmo sentido da porta estreita, daquela que se abre a partir da profundidade dos critérios de discernimento e da qualidade do testemunho na vida diária. O pano de fundo determinante de tudo é o amor, a capacidade responsável de relação e de doação.