Grande parte das realidades da nova cultura e do momento presente se fundamenta nas riquezas provindas do passado. Nem tudo é totalmente novo no que normalmente costumamos chamar de “modernidade”. Talvez a grande virtude de hoje é a capacidade de unir o passado com o presente, como aquele pai de família que foi capaz de tirar de “seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13,52).
A Igreja celebra a solenidade da Epifania do Senhor. É um termo que envolve o contexto do nascimento de Jesus Cristo, tendo como significado a palavra “manifestação”. É o Menino Deus que, ao nascer numa simples e humilde manjedoura, em meio a animais, revela-se como uma verdadeira luz, que brilha e é percebida pelos pastores que estavam a pastorear seu rebanho de ovelhas.
Ainda vivenciando o bonito clima das festas natalinas e de ano novo, a memória da Epifania do Senhor continua atualizando o gesto misericordioso e revelador de Deus para a nova humanidade. A luz divina brilha nos corações sensíveis e abertos para acolher os dons e as bênçãos proporcionados pela vida de Cristo. Além de se manifestar aos Reis Magos, manifesta-se em nós em sua Palavra.
Todos os povos e as culturas não podem ficar totalmente herméticos e insensíveis diante da manifestação de Deus também nos novos tempos. A Epifania não é um fato apenas do passado ou dos primórdios da era cristã, porque Deus assumiu a nossa natureza e continua exercendo sua missão libertadora e salvadora na história da vida humana. Ele está próximo e é amigo da humanidade.
Os Reis Magos, ao ir pelo caminho guiados por uma estrela até o encontro da manjedoura, onde estava o Menino Deus, viram ali a presença de uma verdadeira luz para o mundo. Eles ficaram alegres e voltaram por outro caminho totalmente transformados, certamente cheios de esperança, diferente do Rei Herodes, que queria matar o menino, evitando que se tornasse um de seus concorrentes.
O encontro com Cristo deve estabelecer transformação e mudança de rumo na vida das pessoas, principalmente nas atitudes, nos hábitos, nos pensamentos e no comportamento. É o Cristo dos primórdios do passado, mas com o mesmo vigor nos dias de hoje, que ilumina os caminhos e abre espaço para a realização do bem, para fazer com que as maravilhas da nova cultura sejam saudáveis.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba