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Reencantar a política

Dom Paulo Mendes Peixoto
Publicado em 13/09/2024 às 17:57
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A palavra “democracia” tem uma evidência especial em ano eleitoral. Ela significa ter direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Mas acontece que estamos mergulhados em um regime marcado pela desigualdade social, também de muita discriminação e ostracismo diante dos atuais vulneráveis e excluídos da sociedade, que revela uma democracia sem sustentação.

Esse cenário influencia decididamente no desencanto ou no encanto na relação política. Não se pode esquecer que as mudanças estruturais acontecem por atos políticos responsáveis. Fato esse que implica também votos dados com responsabilidade. Por isto, é preciso refletir bem em quem votar, ver o perfil dos candidatos e os projetos realizáveis que apresentam no momento da campanha eleitoral.

Sente-se um desencanto generalizado de grande parte da população em relação à política. O que motiva tal situação? Seria o descompromisso dos eleitos, o carreirismo, ou aqueles que enxergam a política mais como cabide de emprego do que serviço ao povo? Temos ainda o agravante dos extremismos ideológicos, impedindo os eleitores de agir e votar com mais liberdade e responsabilidade.

Já ouvimos dizer que a política é uma forma eminente de oportunidade para a prática da caridade, porque toca nas relações sociais, econômicas e políticas. Ela necessita ser exercício de uma sociedade fraterna, que cuida da ecologia sustentável e integral, porque tudo está estreitamente relacionado. A dignidade do ser humano depende do equilíbrio de toda a natureza.

Só é possível mesmo construir uma verdadeira e autêntica democracia acreditando piamente na força transformadora da política, porque ela é uma arte louvável do bem comum e do bem governar. O desencantamento do povo em relação à política prejudica toda a comunidade, porque deixa de contribuir com uma administração mais comprometida e voltada para as necessidades da população.

Mas não é tão fácil escolher bem um bom candidato. Até os apóstolos tiveram dificuldade para identificar quem era Jesus (Mc 8, 28). Para os cristãos, é uma questão de fé e obras, mas as obras sem fé são mortas (Tg 2,17). Assim sendo, reencantar a política deve ser um ato eminentemente de fé, de comportamento responsável na construção de um mundo melhor, que ainda é possível na história.

 Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba

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