A sedução possui uma característica de produzir na vida da pessoa o sentimento de fascinação e encantamento, tanto para fazer o bem como para o mal. Há quem seduz e quem é seduzido. Pode ser também uma forma de iludir a pessoa para finalidades escusas. Não é esta a atitude de Deus, porque sua prática de sedução tem por finalidade encantar as pessoas para construir o Reino Eterno.
O profeta Jeremias diz ter sido seduzido pelo Senhor para assumir uma missão profética no meio do povo (Jer 20,7). Ele sabia do peso que iria encontrar pelo caminho, mas se sentiu fortalecido por saber que o Senhor estaria do seu lado e lhe daria sustentação. Desta mesma forma, muitos outros profetas se viram seduzidos e convocados, colocando em prática o chamado vocacional de Deus.
A vocação, como chamado de Deus, é uma força divina no coração das pessoas. A sedução se identifica com a inclinação natural que brota de dentro do indivíduo e o impulsiona para a prática de alguma ação visualizada. Às vezes, a pessoa se sente frustrada por não conseguir realizar seus objetivos naturais e espontâneos, tendo que traçar outro caminho, totalmente desconectado da vocação.
O apóstolo Paulo também foi um seduzido pelo Senhor. Ele tinha por objetivo claro defender as leis antigas, seguindo a doutrina de Moisés, contra o cristianismo. Mas foi tocado pelo chamado divino, fez toda uma renovação interior de vida e passou a entender a totalidade e abrangência do processo de salvação, tornando-se um dos maiores anunciadores da Palavra de Jesus Cristo.
As seduções de Deus implicam serviço, mesmo existindo o perigo do vício do poder. Cristo entrega a Pedro o chamado “poder das chaves”, para governar a Igreja, mas sem perder de vista a identidade própria de servir. Assim é a função de seus sucessores, para dar a última palavra sobre as questões da Igreja. É o que faz o Papa Francisco, com um serviço provocador de sinodalidade.
A Palavra de Deus deve ser a maior sedutora das pessoas. Sedução para a realização de tudo aquilo que eleva a humanidade, superando todo tipo de contravalores reinantes na cultura de cada tempo. Assim deve acontecer com as instituições da sociedade, entre elas a Igreja, que também precisam seduzir seus fiéis seguidores para colocar em prática a realização de seus objetivos.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba