Normalmente, o ser radical é uma posição pessoal ou opinião extremada ao adotar ações drásticas para impor as próprias ideias. São atitudes que podem ser muito perigosas e trazer consequências que dificultam a harmonia social. As ações pacíficas são muito mais eficazes e colaborativas no mundo da convivência. E nesse campo podemos identificar as ideologias radicais, com frutos desastrosos.
O que deve ser radical mesmo é o amor, exigente e pacífico, consequência de práticas integrativas de equilíbrio e de compromisso com Deus e com as pessoas. É viver o que diz a expressão bíblica: “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv 19,2). Jesus foi radical ao abraçar a “sabedoria” da cruz, numa atitude de total doação, num amor gratuito e sem medida pelo bem dos outros.
Ele faz realmente uma interpretação radical do amor. Mexe com o brio das pessoas ao dizer que é preciso amar também o inimigo (cf. Mt 5,44), porque esta é a atitude do Pai que ama a todos. É o gesto da gratuidade e de superação de todo tipo de discriminação e vingança. Assim dizemos que o verdadeiro amor é muito exigente, comprometedor e acessado por quem tem radicalidade de postura.
Amar o inimigo é prática revolucionária, radical e gratuita. É ser capaz de enfrentar as reações e as consequências do perdão ou não do outro, mas é um amor que conduz à perfeição. Isto é fazer um caminho concreto de vida, que favorece o relacionamento e a convivência comunitária. O perdão estanca todo tipo de violência e revitaliza as forças que ajudam na radicalidade da felicidade.
Um detalhe importante do amor radical é não pagar o mal com o mal (cf. Rm 12,17), porque isto desorganiza totalmente a vida das pessoas envolvidas e respinga no todo da comunidade. Não faz bem ficar no mundo da radicalidade das vinganças, mesmo sabendo que os infratores tenham que pagar pelos males cometidos em plena consciência. Vingança é diferente de ressarcimento de dívida.
Ser radical pode significar apenas aplicar com rigor uma lei, sem usar da misericórdia, que é uma expressão da radicalidade do amor. Aplicar uma lei, com atitude de misericórdia, é fazer um caminho de equilíbrio no exercício e na realização da justiça, podendo usar também a prática da compaixão fraterna, sem permitir que haja impunidade, talvez usando de penas alternativas.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba