Apesar das atitudes destruidoras e depreciativas referentes à identidade e beleza da palavra “vida”, principalmente humana, ela não deixa de ser mistério, tesouro escondido e valorizado como dom divino. Ao dizer vida humana, não podemos descartar a abrangência e integralidade que lhes é própria, porque está presente em toda a natureza criada, assim como dos animais, dos vegetais, etc.
A vida humana, como dom de Deus, tem uma missão no mundo, projetada para a felicidade das pessoas, que não termina na terra. Podemos até endossar a expressão de que Deus conta conosco para construir uma comunidade saudável e feliz. Fugir desse caminho é causar sofrimento e morte, é ir contra o objetivo contido no projeto divino da criação, que tem a vida como verdadeiro tesouro.
Devemos aqui dizer que a vida, enquanto está na condição temporal, é humana e sujeita aos condicionamentos do seu cotidiano. Portanto, é via de construção para proximidade da perfeição, que só é possível na eternidade, mas precisa começar na diuturnidade. É impossível atingir esse estágio quando agimos na contramão da vida, com ameaças e desrespeito com a integralidade da criação.
O povo da antiga Aliança, ameaçado de morte pelos Faraós do Egito, não teve uma outra saída que não fosse a de fugir para o deserto, tendo que enfrentar o perigo de morte justamente para defender a vida. Moisés, com toda a sua fragilidade, exerceu a missão de guia e abriu caminho para que a vida fosse considerada. Para ele, a vida pertence ao Senhor e deveria ser privilegiada com determinação.
Não é tão fácil defender a vida de quem é justo, porque isto supõe doação, desprendimento e trabalho. Ainda mais, proteger aqueles que são injustos. Por outro lado, é fundamental entender as atitudes exemplares de Jesus Cristo, pois ele agiu em defesa dos pecadores, que também têm direito à vida, não só de viver, mas com dignidade. Significa reconhecer a primazia desse tesouro divino.
O pastor quer o bem para as ovelhas, tanto para as sadias como para as doentes, porque o que importa é a vida delas. Essa era a conduta de Jesus diante de um povo desprotegido, ferido em sua dignidade, sem propósitos e nem objetivos. A perda da esperança diminui quantitativa e qualitativamente o sentido belo da vida e fere sua condição divino-humana, deixando de ser vida como tesouro.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba