Estamos no Terceiro Ano Vocacional no Brasil, com o tema: “Vocação, graça e missão”. O lema, com uma fundamentação bíblica, seguindo os passos dos discípulos de Emaús, é: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33). Foi o que se deu com Abraão, nosso pai na fé. Ele ouviu o chamado de Deus no coração e colocou-se a caminho, assumindo os desafios apresentados em seu tempo.
Muitas pessoas se esquivam diante da inspiração vocacional, do chamado divino. Foi diferente com Abraão, porque não ficou preso em sua redoma. Sentiu seu coração arder e foi realizar a proposta que a ele tinha sido pedida. Certamente, não foi tão fácil, porque todo caminho está cheio de tropeços, de pedras, etc. Dar passos significa aprofundar o sentido da missão e realizá-la de cabeça erguida.
A história de Abraão, que vemos na Bíblia, é muito bonita. Com sua esposa, Sara, forma uma família nômade, sem morada fixa, conduz e cuida de seu rebanho, oferecendo-lhe novas pastagens. Foi nesse contexto que sentiu a voz de Deus, chamando-o para um novo compromisso, totalmente diferente do que ora assumia, de ser pai de um grande povo, mesmo na realidade de sua velhice.
Seguir um chamado vocacional é romper com as seguranças que estorvam prosseguir num determinado rumo e de construir uma nova realidade social. É o projeto da Quaresma, tempo de mudança interior, de renovar o coração e, também, muitas práticas do cotidiano. Nos dizeres da Campanha da Fraternidade de 2023, é romper com uma cultura que favorece a gritante situação atual de fome no país.
A antiga proposta vocacional de Abraão continua nos novos tempos, porque o objetivo, que ela contém, é de chegar à terra prometida, à vida em plenitude, que não deixa de ser uma construção permanente. Desta forma, os vocacionados têm como missão abrir caminhos para a vida. Esse foi o papel de Abraão, seguido hoje por tantas pessoas que se colocam a serviço do Reino de Deus.
Na história diuturna dos povos, identificamos uma infinidade de outros como Abraão, pessoas que doaram a própria vida por uma causa sublime. Na Bíblia, por exemplo, podemos citar muitas dessas figuras que marcaram época. Assim é o caso de Moisés, de Elias, dos profetas, dos apóstolos, etc. Mas o protótipo de todos eles é Jesus Cristo, como modelo de quem é chamado por Deus.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba