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2021: O ano sem carnaval

Euseli dos Santos
Publicado em 03/03/2021 às 19:38Atualizado em 18/12/2022 às 12:31
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No país do carnaval não houve carnaval em 2021. Esse ano não vimos as alegorias das escolas de samba, não participamos dos bloquinhos de rua. Não vivemos a alegria contagiante da principal festa democrática do país.

Às vésperas de completar um ano no combate ao inimigo invisível, o país tenta sobreviver a uma crise econômica e de administração pública gigantesca, assim como a vastidão do nosso território. Aqui, não há tempo e nem lugar para diversão, porém, parece que os personagens da capital brasileira não estão medindo esforços para festejar às nossas custas.

O mais recente episódio poderia receber a alcunha de Bloco do Leite Condensado e já que o estrago nos cofres públicos está feito, bem que os políticos devoradores de sobremesa podiam se vestir à caráter e montar alas carnavalescas com os temas Brigadeiro, Beijinho, Bicho do Pé, Pudim da Vovó e por aí vai!

Mais uma vez, os políticos se deleitaram com o dinheiro público - ou melhor, nosso dinheiro - no escândalo do superfaturamento dos gastos públicos. Entre os valores estratosféricos, o que mais causou indignação foram os 15 milhões gastos com leite condensado. O inocente ingrediente das receitas da vovó custou vultosos R$162 por cada unidade. Depois disso, deveriam trocar a famosa frase popular “tudo acaba em pizza” para “tudo acaba em leite condensado”.

Enquanto isso o povo segue sobrevivendo na pandemia; muitos passando fome, outros vivendo do auxílio emergencial, milhares se virando com o pouco que ganham. Lá em Brasília parece que é sempre carnaval. Há sempre fartura na mesa e motivos para comemorar. Claro que a sobremesa não pode faltar, né, minha gente.

Em mais um episódio da série “rir para não chorar” presenciamos o público se transformar em privado. Para nossa infelicidade, em nosso país já virou tradição o erário ser apossado por interesses de minorias, que tem acesso ao montante financeiro e tomam posse para seu bel-prazer.

Eu aprendi muito bem a diferença entre o que é público, ou seja, para usufruto de todos; do bem privado que está para uso particular ou exclusivo de um determinado grupo. Pelo jeito, a classe política parece não estar nem aí!

Dentro do seu mundinho ególatra, acreditam que são proprietários do dinheiro público a partir do momento que assumem um cargo político e esse mesmo sentimento mesquinho é perpetuado quando uma praça é depredada, as indústrias poluem o meio ambiente, o lixo é descartado em via pública. É por isso que devemos ser exemplos como cidadãos para poder exigir a mesma postura de respeito e dignidade. Ao mesmo tempo, é dever de todos os políticos prestarem contas à população, que confia no regime democrático para eleger seus representantes.

O mais irônico é que, em um ano atípico, sem pão e nem circo, a festa popular que tanto é criticada por incitar a vulgaridade, ganhou ares de festinha de criança quando comparada com a farra em Brasília. A verdadeira esbórnia não vem do povo e sim das autoridades públicas, que se deleitam em festas e mais festas patrocinadas com o nosso dinheiro. Pior que isso tudo só aumenta a minha nostalgia pelos bailinhos de carnaval da infância. Bons tempos… éramos felizes e não sabíamos.

Euseli dos Santos Advogado em Uberaba/MG- OAB(MG) 64.700 - Mestre em Direito pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). E-mail: euseli@terra.com.br

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