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Dia da Consciência Negra

Euseli dos Santos
Publicado em 22/11/2023 às 18:45
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O Dia da Consciência Negra é uma data para relembrar os “fantasmas” da escravidão que, apesar da revolta que ainda pode causar na população negra, diante das memórias dos horrores que sofreram seus ancestrais, funciona como um instrumento de conscientização para jamais submetermos outros seres humanos a tamanho sofrimento.

A data também serve para continuarmos olhando atentamente para os inúmeros desafios que os negros enfrentam todos os dias no país, lembrando que a jornada ainda é árdua e longa - e talvez nunca termine. E as estatísticas estão aí para comprovar! Um pouco mais de 40% das mulheres negras estão desempregadas e mesmo as que estão trabalhando sofrem com os preconceitos racial e de gênero, pois, em média, elas recebem menos da metade que os homens brancos. A situação não é diferente entre os homens e os jovens afrodescendentes que estão iniciando a carreira.

Aliás, nem precisamos conferir as estatísticas para saber como a cor da pele interfere diretamente no sucesso profissional e na possibilidade de mobilidade social. Você conhece quantos afrodescendentes ocupam postos no cenário político? Ou que exercem cargos de liderança no mercado corporativo? Ou que apresentam títulos acadêmicos?

Para corrigir parte das injustiças sofridas pela maioria da população brasileira hoje, existe o sistema de cotas das universidades/faculdades públicas destinado a negros e pardos. Claro que as vagas são insuficientes e, também, não é a solução para reparar os anos de defasagem escolar a que um estudante da classe baixa foi submetido durante a vida toda. Sempre pensei que o sistema de cotas fosse uma espécie de mea culpa do poder público em relação aos desfavorecidos, como se esse tipo de projeto social pudesse apagar toda a violência e descaso que aquele indivíduo sofrera ao longo da sua trajetória. 

As possibilidades de um negro ou negra ascender socialmente é infinitamente menor do que qualquer outro cidadão, pois o poder socioeconômico continua pertencendo aos descendentes dos imigrantes europeus, residentes das regiões Sul e Sudeste do país. Além da questão da desigualdade social, todo esse cenário só faz contribuir para gerar um clima de animosidade entre afrodescendentes e todas as outras etnias, especialmente a elite branca, que parece ocupar todos os espaços de poder e desfrutar dos privilégios que uma pessoa pode se beneficiar na sociedade.

Por tudo isso, acredito que o nome Dia da Consciência Negra retrata fielmente o nosso nível de comprometimento à causa. Estarmos conscientes dos horrores da escravidão e suas graves consequências, é o primeiro passo para tentarmos diminuir a lacuna social entre as classes. Ainda estamos a anos-luz de conseguir tal feito. O momento atual está bem distante de uma sociedade igualitária e justa, como sonhava o ativista norte-americano Martin Luther King, que em seu famoso discurso (na cidade de Washington, no ano de 1963) verbalizou a célebre frase “Tenho um sonho de que meus quatro filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo teor de seu caráter…”. O desejo de Martin ficou mesmo só no campo dos sonhos, nunca chegou a ser realidade, e fico pensando se, infelizmente, não é uma utopia!

Euseli dos Santos
Advogado em Uberaba/MG – OAB/MG 64.700, especialista em Direito do Trabalho; mestre em Direito pela Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp); conselheiro estadual titular da OAB/MG triênio 2022/2024

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