No último dia 8 de maio, foi acionado o alerta de atenção máxima aos pais de adolescentes na nossa querida cidade. Nesta fatídica data ocorreu um crime nunca imaginado nos piores pesadelos de qualquer progenitor e progenitora. Uma adolescente de 14 anos foi esfaqueada por um colega da mesma idade dentro da sala de aula de um colégio particular conhecido.
A partir desse acontecimento, duas famílias seguem devastadas. Com certeza, mergulhadas na dor de um luto que não seguiu o fluxo natural da vida e, talvez, assombradas com a pergunta que não quer calar: “onde foi que erramos?”. Já nós, pais e cidadãos de Uberaba, seguimos chocados por outros motivos: pela idade precoce do autor do homicídio; pela falta aparente de justificativa para ele cometer tal brutalidade; por acontecer dentro de uma sala de aula (local que ainda consideramos seguro para nossos filhos) e, por último, pela incrível semelhança com o crime praticado pelo protagonista da minissérie “Adolescência”, produção da plataforma Netflix.
Será que o garoto se inspirou na série para cometer o crime? Sim, talvez. Acontece que esta não é a discussão relevante sobre o tema, mas, sim, que o roteirista da obra declarou que se inspirou em casos reais de homicídios praticados por adolescentes em seu país, a Inglaterra.
A revelação lançou uma verdade obscura que muitos pais fingem não ver ou simplesmente ignoram: os perigos e a toxicidade dos conteúdos espalhados na internet. A tecnologia juntamente com a globalização permitiu não só transitarmos por outras nações, fazer negócios internacionais facilmente e trocar experiências positivas; ela também tornou possível compartilhar o lado sombrio da sociedade e violência de todo tipo via satélite. Também nos fez lembrar que esse tipo de delito, crime de ódio, coloca qualquer país no mesmo patamar de vulnerabilidade, pois não é algo gerado pela pobreza e desigualdade social, ou seja, não é um episódio típico de um país com graves problemas sociais como o Brasil.
Tragédias semelhantes ocorreram (e podem ocorrer) com adolescentes ingleses, brasileiros, norte-americanos, etc., o que agrava ainda mais nosso temor pela integridade física dos nossos jovens.
Em outros tempos, os pais mais precavidos não deixavam seus filhos brincarem pelas ruas para protegê-los dos perigos do mundo externo. Dentro de casa e na escola estariam blindados de graves acidentes e agressões. Hoje não há lugar seguro, a internet trouxe perigos invisíveis e difíceis de rastrear; o bullying acontece no mundo real e digital e os conteúdos tóxicos estão aí espalhados pela rede à disposição de qualquer pessoa, seja ela um adulto ou um menor de idade.
Inclusive, essa é a tônica da minissérie e, assim como o jovem ator, muitos garotos estão sendo bombardeados com palavras de ódio, sendo alvo de humilhação e ofensas em redes sociais, que funcionam como uma espécie de terra sem lei. Esse é o recado urgente a todos os progenitores: a vigilância deve ser constante na criação dos seus filhos. Se você não os municiar de valores e informações, eles vão aprender sobre qualquer tema em fontes não confiáveis. Precisamos assumir responsabilidades para com nossas crianças mesmo diante dos desafios do mundo acelerado. O tempo que a gente passa com a família deve ser de qualidade. Lembre-se de desacelerar e entregar o seu melhor com dedicação e cuidados genuínos, para que a gente nunca mais precise ler e ouvir histórias trágicas de quem ainda tinha tanto futuro pela frente.