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O alto custo da soberba humana

Euseli dos Santos
Publicado em 17/07/2023 às 18:29
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Os homens produzem engenhocas tecnológicas para transformar sonhos em realidade e ultrapassar as expectativas da realidade. Para isso não economizam recursos em estudos, pesquisas e testes de aprovação. Empenham-se por anos, às vezes décadas, a projetos inovadores e alguns até visionários. Investem tempo, criam uma rede com os melhores profissionais e utilizam excelentes materiais para efetivar suas criações.

O homem exibe suas obras-primas com orgulho e desbrava céus e oceanos, empunhando a bandeira de comandante da Terra com o sentimento de que nada é impossível para o único ser racional que habita este planeta. A soberba humana, quando aliada à ganância, mostra-se uma combinação mortal – responsável por ocasionar graves acidentes, que provocam a morte do próprio criador e, ainda pior, de pessoas inocentes.

No caso, imagina-se que nada pode impedi-lo com seus feitos e invencionices. A natureza mostra, com toda sua pujança, que existe uma variedade infinita de ecossistemas coabitando este mesmo universo e que é necessário respeitar os espaços naturais e cada um dos seres vivos.

Diga-se que foi assim com o Titanic, que só precisou colidir com um iceberg para afundar toneladas de pura imponência no meio do Atlântico. Tudo leva a crer que foi utilizada matéria-prima de baixa qualidade na produção do casco da embarcação (isso explica a fragilidade do material). Além do mais, foram recomendados 64 botes salva-vidas no projeto, porém, o proprietário da White Star reduziu o número para somente 20, como forma de conter os custos.

A consequência da decisão quando da fabricação do navio custou a vida de mais de 1.500 passageiros e provocou traumas profundos nos sobreviventes do naufrágio. O mesmo aconteceu recentemente com o submarino Titan, que numa coincidência irônica, foi projetado para as pessoas vislumbrarem os destroços do famoso transatlântico e cujo destino foi o mesmo: seus restos mortais agora estão alojados na água salgada do oceano. Neste último, o gosto duvidoso pela morbidez misturado com a pretensão de tentar vencer a força da pressão do fundo do mar implodiu os sonhos de alguns cidadãos.

As histórias se coincidem na tragédia, que com isso parecem carregar uma aura de “maldição”. Mas esta teoria só pode ser considerada ao analisarmos os fatos superficialmente. Um olhar mais atento logo perceberá que os episódios trágicos são consequência de dois fatores: vaidade humana e ganância por lucro (por exemplo: usar materiais mais baratos e reduzir gastos). Quantas mortes serão necessárias para conter a soberba humana? Existe um limite para o nível de sofrimento que possa interromper nossa sede de poder? Estas e outras perguntas são sempre verbalizadas após ocorrerem acidentes de grande repercussão. Porém, depois de um breve período, voltamos ao cotidiano e elas continuam sem respostas. Até quando vamos normalizar a morte de vítimas inocentes em nome da vaidade e do dinheiro?

Euseli dos Santos
Advogado em Uberaba/MG – OAB/MG 64.700; mestre em Direito pela Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp); conselheiro estadual titular da OAB/MG triênio 2022/2024

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