“O dia em que a Terra parou” é o título de uma canção de Raul Seixas, datada de 1977. Qualquer semelhança com a realidade atual é mera coincidência. Ou será que um dos nossos mais cultuados artistas também tinha talento para vidência?
Sem querer, o eterno maluco beleza adivinhou o cenário de isolamento social, no qual estamos todos imersos. Ironia? Destino? Não importa. A única certeza é que sua obra continua imortal. Raul, você continua genial, hein!
A verdade é ninguém poderia prever uma pandemia em pleno século XXI, não é, gente? Aliás, nem os mais pessimistas imaginariam o contexto tenebroso que estamos vivenciando. De repente, a espécie humana está ameaçada por um inimigo quase invisível, que parece debochar de todos os avanços da ciência. Isso é um grande tapa na cara da humanidade.
Governantes do mundo todo andam derrapando em suas decisões. O blasé quanto à periculosidade da doença tem custado muito caro para países da Europa e, recentemente, aos Estados Unidos. Não há riqueza que consiga impedir o poder de disseminação do coronavírus. Fica a lição!
Aqui no Brasil está fomentando a maior crise política – mais uma para a lista – entre o todo-poderoso e sua equipe, estendendo aos governadores. Estes simplesmente deram as costas para os discursos verborrágicos de vossa excelência. Começou com os xingamentos contra a imprensa; o tal do isolamento vertical; a desastrosa coletiva do põe e tira máscara; depois teve o discurso da gripezinha; do eu não sou coveiro e blá-blá-blá. A essa altura, tudo que é falado entra por um ouvido e sai pelo outro. Isso porque mal começamos a jornada contra o mal e suas consequências devastadoras.
Caro leitor, antes de continuar, quero fazer um pedid analise criteriosamente as verdadeiras motivações de um estadista. Qual é a principal missão de um político? Eu aprendi que é defender e servir aos interesses do seu povo. Ou seja, neste cenário de pandemia, um legítimo governante deveria se preocupar com a vida dos cidadãos ou pensar na economia do país??
Este é o ponto que quero destacar! É indispensável falar que o mundo vai enfrentar uma recessão incalculável. Mas não é tempo de pensar em capital quando a vida humana está em jogo. Se não seguirmos as recomendações comunicadas pelas autoridades de saúde, podemos sumir do planeta.
Infelizmente, milhares de vida ainda serão ceifadas, pois não há previsões sobre tratamentos eficazes ou uma vacina milagrosa. Para os que sobreviverem, não vai ser nada simples e fácil. Junto com a doença vão acontecer milhares de outras problemáticas em números superlativos. Até arrisco a dizer que a miséria vai exterminar tanto quanto a Covid-19.
Imagina o que isso significa em um país miserável como o nosso? Uma nação com um dos maiores índices de desigualdade social? Permito até recolher meus pensamentos sobre esse tema, porque a realidade já vai ser dura demais.
Diante de tudo isso, agora é o momento oportuno de o todo-poderoso e sua equipe mostrarem serviço. Esta é a hora de vermos quem está do nosso lado ou não.
Quando a “normalidade” voltar, as empresas estarão “quebradas” e o desemprego vai bater recordes nunca antes vistos na história do Brasil. Só que os impostos e as contas vão chegar pontualmente. Quem vai pagar a conta? O povo mais uma vez? Com que dinheiro? Quero só ver se o salário dos políticos e todos os privilégios permanecerão imaculados diante da catarse! Acredito que muitos líderes irão mostrar suas verdadeiras faces. Algumas máscaras já caíram (e não me refiro às descartáveis) e muitas ainda cairão – vide algumas declarações insensatas de empresários que pulverizaram rapidamente pelas redes sociais.
Chegou a hora da verdade para o homem de bem mostrar seu arsenal de bondade, não é mesmo, caro leitor? Como ser humano, filho, marido e pai de família, espero sinceramente que o final seja feliz. Porque, infelizmente, tudo isso não é apenas um sonho como na música de Raul Seixas, só que pode ter um término feliz assim como na canção.
Euseli dos Santos
Advogado militante em Uberaba – OAB (MG) 64.700
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