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Aluízio Prata

Gilberto Rezende
Publicado em 21/01/2022 às 20:43Atualizado em 18/12/2022 às 18:02
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Em plena madrugada de janeiro de 2003, fui acordado com o incessante toque do telefone. Ao atender, percebi de imediato que era a inconfundível voz do Jaime Costa Silva, médico da área de organização de eventos do Ministério da Saúde, em Brasília. O assunto era para tratar de um novo encontro dos médicos da área de doença tropical, sob o comando do dr. Aluízio Prata, em Uberaba, a exemplo dos já realizados em anos anteriores.

Cabia a mim a responsabilidade pela hospedagem e alimentação, já que as conferências eram realizadas em outros setores da cidade.

A preocupação em organizar com antecedência tinha suas razões. Dessa vez, figuras expressivas do cenário internacional estariam presentes. Tratava-se da XIX Reunião de Pesquisa aplicada em Doença de Chagas e da VII Reunião de Leishmaniose, sob o comando do médico Reinaldo Dietz, que ajudou, em parceria com Edson Reis Lopes e Aluízio Prata, a criar na UFTM o Curso de Medicina Tropical.

Uberaba, centro médico reconhecido de alto nível, sempre teve médicos pesquisadores de renome internacional no campo das Doenças Tropicais. Entre outros destacam-se Edmundo Chapadeiro, Humberto Ferreira e Aluízio Prata. Neste aspecto, tanto no passado como no presente, Uberaba tem do que se orgulhar.

Aluízio Rosa Prata nasceu em 1º de junho de 1920, em Uberaba, sendo o mais velho dos seis irmãos, filhos de Délia Rosa Prata e João Prata Júnior, Nonô. Aos oito anos, foi aluno interno do Colégio Marista. Após sua formatura neste Colégio, foi para o Rio de Janeiro, com 17 anos de idade.

Graduou-se em Medicina em 1945, pela Universidade do Brasil (atual UFRJ). Trabalhou, inicialmente, como médico das Forças Armadas, Professor Catedrático em Universidade da Bahia (1957 a 1969). Foi lá que ajudou a criar e dirigir a “Fundação Gonçalo Muniz”.

Mudou-se para Brasília e criou o Núcleo de Medicina Tropical na UnB, onde permaneceu de 1969 a 1987. Em ambas instituições colaborou para a estruturação das disciplinas relacionadas às doenças infectoparasitárias e participou de forma determinante na formação de gerações de pesquisadores e docentes para o Brasil, América Latina e África.

Segundo o grupo PET-Medicina, a vinda de Aluízio Prata, em 1987, para a Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (hoje UFTM) foi um divisor de águas na história da Instituição.

Na FMTM foi professor da área de Doenças Tropicais e Infecciosas. No setor de Medicina Tropical, principalmente em relação à doença de Chagas, malária e esquistossomose, sempre foi referência primeira no país.

Suas centenas de trabalho sobre profilaxia, clínica e tratamento da malária, doença de Chagas, esquistossomose, leishmanioses e outras endemias constituem ainda referências básicas para todos aqueles que se preocupam com estes temas.

Sempre manteve intercâmbio com pesquisadores internacionais na experimentação de vacinas. Seu prestígio trouxe para Uberaba, no início da década de 1980, o XXVII Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, o qual teve repercussão internacional.

O seu reconhecimento foi atestado pelos cargos que ocupou na Organização Mundial de Saúde e na Organização Panamericana de Saúde.

Segundo o depoimento do também pesquisador José Rodrigues Coura na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical em 2010, entre os numerosos feitos do Professor Aluízio Prata podem ser destacados –

A - As Três Escolas de “Medicina Tropical” criadas na Bahia, em Brasília e Uberaba, povoando o Brasil inteiro de pesquisadores desta área.

B - Seu pioneirismo na criação das áreas de estudo de campo em Caatinga do Moura, São Felipe, Três Braços, Catolândia e Brejo do Espírito Santo, na Bahia; Mambaí, em Goiás; Água Comprida, em Minas; Lábrea e Costa Marques, no Amazonas, entre outros estados brasileiros.

Há que se considerar ainda que o Professor Aluízio Prata escreveu sete livros, publicou 289 artigos e 175 trabalhos científicos, tendo ainda participado de 75 eventos de caráter científico no exterior e 420 no Brasil.

E o que representou isto? Segundo o ex-ministro da Saúde, Adib Jatene, que já foi médico em Uberaba e professor da FMTM, o Brasil deu um exemplo ao mundo ao reduzir a incidência da doença de Chagas de 100 mil casos existentes em 1981 para cerca de cinco a l0.000 casos em 1991. Uberaba teve participação expressiva na redução desta doença.

Pelo seu reconhecido trabalho, Aluízio Prata recebeu, em 1974, a “Comenda da Ordem do Rio Branco” (Ministério das Relações Exteriores); em 1980, o “Prêmio Alfred Jurzykovski” (Academia Nacional da Medicina); em 2001, a “Medalha Capes 50 anos”, e no mesmo ano, a “Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico” (Presidência da República do Brasil).

Em abril de 2002, em comemoração ao recebimento desta última Comenda, tive a oportunidade de prestar ao Professor Aluízio uma singela homenagem, na presença de amigos, do diretor da UFTM, Edson Luiz Fernandes, e de seus familiares, entre outros, os irmãos Arnaldo Rosa Prata e João Antônio Prata, na Casa do Folclore.

Aluízio Rosa Prata, considerado a maior autoridade brasileira em Medicina Tropical, faleceu em 13 de maio de 2011, aos 91 anos de idade. Deixou viúva Martha Toubes Prata, com quem teve três filhos, engenheiro Aluízio Prata Júnior, professor da Universidade da Califórnia; engenheiro Álvaro Toubes Prata, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, e a educadora da UFTM, Martha Maria Toubes Prata.

Acredito que, por uma questão de justiça, o Poder Público, a Câmara Municipal e todas as Entidades de Uberaba, vinculadas ou não à Medicina, deveriam se unir para prestarem uma homenagem imorredoura ao grande cientista de nossa cidade, que é reconhecido pela comunidade científica de seu país e do exterior.

Chico Xavier, alvo de expressivas e merecidas homenagens, foi um grande consolador espiritual. Aluízio Prata, que foi um dos grandes responsáveis pela salvação de centenas de milhares de vidas, tem direito ao mesmo reconhecimento.

Fontes: “Revista Goiana de Medicina” (Edison Reis Lopes e Edmundo Chapadeiro); “Revista Sociedade Brasileira de Medicina Tropical” (2010); “Proficiência” – Academia Brasileira de Ciência; “JM” – Artigo de Gilberto Rezende de 27-11-1992; “Jornal de Notícias da ABC”.

Gilberto de Andrade Rezende

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro e ex-presidente e conselheiro da Aciu e do Cigra

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