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Casa Carvalho – Uma viagem no tempo

Gilberto Rezende
Publicado em 05/10/2021 às 19:44Atualizado em 18/12/2022 às 16:28
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Início da semana. Mais um encontro com os amigos da segunda-feira. Sob o comando do presidente Flamarion Batista Leite, o grupo, formado por ex-presidentes e diretores da Aciu, sempre procura prestigiar, em cada semana, a diversidade de cardápios oferecida pelos bons restaurantes da cidade. Uma forma de usufruir da agradável companhia de velhos companheiros de ideais e degustar da rica gastronomia da cidade. Um ritual que já ultrapassou a marca dos 40 anos. 

Desta vez, o local escolhido foi a imponente casa do Silvinho Rodrigues da Cunha, transformada em restaurante do Hotel Tamareiras. Além de Flamarion, estavam presentes Sérgio Marcos Guarato, Ivan Moratelli, Gilberto Rezende, Anderson Cadima, José Peixoto, Marcos Rodrigues, Carlos Humberto Rocha, Paulo Fabiano Resende, Sérgio Bóscolo e Paulo Batista de Carvalho. Por motivos justificados, deixaram de comparecer neste dia, Eleiçon Mariano, Ricardo Resende, José Arlênio, Steferson Pena, José Maria Pereira e Artur Barillari. 

Ao me despedir dos companheiros, percebi que ia ter que esperar um pouco pela chave do carro, pelo grande o movimento que ocorria no pátio do Hotel. 

Aproveitei o tempo para admirar novamente a arquitetura, em estilo mouro florentino, daquela mansão, que foi construída no final da década de 1930 pelo agropecuarista Guiomar Rodrigues da Cunha, mais conhecido por Marico. Um conjunto de ciprestes ornamentava a entrada. As tamareiras que enfeitam o pátio foram importadas do Oriente, em 1941. 

Ao ver do outro lado da rua o salão onde estava o carro, lembrei-me de que naquele local funcionou, por mais de sessenta anos, a Casa Carvalho, um dos maiores estabelecimentos comerciais da região do Triângulo Mineiro e que deu uma grande contribuição para o desenvolvimento econômico de Uberaba. 

É uma bonita história de como se deu a constituição dessa empresa. Nasceu da amizade e da mútua confiança entre Mousinho Teixeira Leite e Arlindo de Carvalho. Um relacionamento fraternal e empresarial que durou tanto quanto suas vidas. Cristalizada nesta sociedade, tornou-se a primeira de muitas outras que seriam celebradas no futuro.  

Mousinho nasceu em 1905 e passou sua infância no Caçu, uma vila construída pela Fábrica de Tecidos, implantada pelo meu bisavô materno e seus irmãos da família Borges Araújo, localizada nas proximidades da Casa do Folclore. 

Arlindo, nascido em Igarapava, SP, em 1903, veio para Uberaba em 1910, então com 7 anos. 

Ambos se conheceram em 1932; Arlindo, como sócio da empresa Magiotti, vizinha da Drogaria Alexandre, onde Mousinho era contador.  

Em 1934, Arlindo de Carvalho e Mousinho Teixeira Leite adquiriram o fundo comercial da Casa Céres, empresa de propriedade de Arthur Sabino de Freitas, por indicação do gerente José Marinho. Este estabelecimento comercial foi implantado no final do século XIX. 

Os novos proprietários mudaram a razão social para “Carvalho & Teixeira”, em 1º de setembro de 1934, que veio a se transformar, em 31 de julho de 1937, com a entrada de outros sócios, na “Casa Carvalho”. 

Seu endereço era rua 24 de fevereiro (hoje rua Carlos Rodrigues da Cunha), esquina com a rua Juliana (hoje, Olegário Maciel). 

Em relato de Renato Muniz de Carvalho, neto de Arlindo de Carvalho, as firmas fornecedoras da época fazem parte da história comercial e industrial do país. Entre outras indústrias e grandes atacadistas, podem ser destacadas a Cia. Antártica Paulista, Martins Fadiga & Cia., Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, Loureiro Costa & Cia (Casa da China), Ribeiro de Abreu (sal), Refinações de Milho Brazil e Moinho Paulista.  

Nesta época, a Cia. Mogiana de Estradas de Ferro foi o sustentáculo para o transporte de mercadorias de toda esta região.  

Renato disse ainda que a entrada de novos sócios abriu novos horizontes para a Casa Carvalho. Sob o comando de Hilirandes Garcez de Morais (Nenga), foi criado um departamento de atacado, administrado por Paulo Cândido de Souza. Várias cidades próximas, como Veríssimo, Garimpo (Conceição das Alagoas), Dores de Campo Formoso (Campo Florido), Dourados (Pirajuba), Nova Ponte e outras localidades passaram a se abastecer com os produtos distribuídos pela Casa Carvalho. 

Centenas de variados produtos faziam parte das ofertas da empresa, entre elas, cereais, sal, óleos vegetais, bebidas e materiais para construção. 

Pelas informações de José Mousinho Teixeira, filho de Mousinho Teixeira, uma grande expansão foi registrada na Casa Carvalho após a implantação da Fábrica de Cimento no Distrito de Ponte Alta.  

Arlindo de Carvalho, então presidente da Aciu, passou a integrar a diretoria desta indústria. A Casa Carvalho contribuiu muito para o sucesso desta fábrica. Foi ela quem deu apoio para todas as relações e operações com o comércio local e ajudou na solução dos diversos problemas que surgiram no decorrer de sua montagem.  

Inaugurada a fábrica no início da década de 1950, a Casa Carvalho passou a ser a distribuidora do cimento. 

Por algumas décadas, as ruas adjacentes eram atravancadas por caminhões que descarregavam mercadorias em seus armazéns e outros que estavam sendo carregados para distribuição em todo o Triângulo Mineiro. Os balcões da firma fervilhavam de gente. 

Ao ter de volta a chave do carro, cessaram as lembranças de um tempo não muito distante. Recordações de pessoas que deram tudo de si para que Uberaba pudesse desenvolver. Pessoas honestas e exemplares. Pessoas de caráter íntegro, dotadas de espírito associativista. 

Apesar da alegria que me foi proporcionada pelos meus companheiros de jantar, despedi-me do lugar com muita tristeza. Tanto Arlindo quanto Mousinho foram meus amigos. Apesar da diferença de idade, eles foram meus companheiros na Aciu e, também, meus sócios na Metalúrgica Santa Rita. Dei um adeus a eles e voltei para minha casa. 

Gilberto de Andrade Rezende - Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ex-presidente e conselheiro da Aciu e do Cigra

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