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Santino Gomes de Mattos

Gilberto Rezende
Publicado em 30/01/2022 às 10:00Atualizado em 19/12/2022 às 00:20
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Maquinaria ou Maquinário? Duas palavras iguais com o mesmo sentido. O dicionário Michaelis registra que uma é sinônimo de outra. Na década de 1960, dois grandes estudiosos da Língua Portuguesa, brilhantes e invejáveis intelectuais portadores de riquíssimos currículos com diplomas em PHD, mantiveram, por um longo período, um embate por meio da imprensa por divergirem na interpretação deste vocábulo.

Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, então bispo metropolitano da Diocese de Uberaba, reconhecido como um dos expoentes da cultura brasileira, com formação eclesiástica e considerado como o maior orador do clero brasileiro, ao escrever a palavra maquinário em um de seus artigos publicados pelo Correio Católico, teve a contestação de Santino Gomes de Mattos, um dos raros intelectuais que ainda poderia ser encontrado no interior do país.

Com uma vasta formação acadêmica, Professor Santino possuía profundos conhecimentos de Linguística, Filologia, Literatura e Português, o que o transformavam em Mestre da Língua Portuguesa.

Enquanto Dom Alexandre se expressava pelo jornal que ele mesmo fundou, Santino Gomes de Mattos fazia suas réplicas e tréplicas por meio das páginas do jornal Lavoura e Comércio.

Foram meses de embates, mas foram também aulas valiosíssimas, proporcionadas pelos dois gigantes da Língua Portuguesa para os leitores, que, embora divididos em suas opiniões, acompanhavam extasiados o desenrolar da contenda literária.

Não havia animosidade pessoal nesta diferença de interpretação. Afinal, o Professor Santino Gomes de Mattos, na época, lecionava na Fista, faculdade que teve sua criação estimulada por Dom Alexandre.

E quem era este “ousado” professor? Santino Gomes de Mattos, nascido em 1º de março de 1908 na cidade de Icó, Ceará, já demonstrava sua genialidade desde criança, pois aos 4 anos de idade já conseguia ler corretamente. Aos 7 anos, já era responsável por três alunos da escola de seu pai. Sua vocação para o magistério o fez professor em Crato (CE) e Ribeirão Preto (SP).

Chegou a Uberaba em 1935 a convite de amigos para ser redator-chefe do jornal “Gazeta de Uberaba”, cargo que ocupou até 1939, época em que foi contratado pelo jornal Lavoura e Comércio, ali permanecendo até 1948.

Desta data em diante, dedicou-se exclusivamente ao magistério, sem perder o vínculo com o jornal Lavoura e Comércio, onde, semanalmente, publicava uma coluna sobre filologia e gramática e, posteriormente, uma coluna intitulada “Cupim, Barbela e Gavião”, incentivando a vocação uberabense para o aprimoramento da raça zebuína.

Era também correspondente do jornal O Estado de São Paulo, onde registrava os fatos importantes que ocorriam na região.

Mas foi na área educacional que Santino Gomes de Mattos mais se destacou. Professor de Português, Francês, Inglês e Latim, lecionava na Escola Normal (hoje, Colégio Estadual Castelo Branco) e foi o primeiro diretor do Colégio Dr. José Ferreira. Foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia Santo Tomás de Aquino (Fista) e professor da Língua Portuguesa e de Filologia Romântica.

Por ser um erudito que traduzia até as línguas mortas, Grego e Latim, e as neolatinas, Francês, Italiano e Espanhol, Santino Gomes de Mattos foi um dos primeiros convidados a participar da fundação da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ocupando a Cadeira de n.º 2.

Poeta e prosador, surpreendeu a todos pela qualidade literária de sua obra – o conto “Flagrantes ao Sol do Norte” e os poemas “Procissão de Encontros”, “Céu Deposto” e “Oração dos Humildes”. Este último mereceu um artigo especial no jornal Lavoura e Comércio, em março de 1940, data em que completava 32 anos de idade, ao relatar que é uma obra-prima em duas áreas – Prosa e Poesia.

No setor Filológico, a obra “O Inferno Divertido da Análise Sintática” foi editada pela imprensa oficial do Estado de Minas Gerais. O conjunto de sua primorosa obra o levou para a Academia Municipalista de Letras de Belo Horizonte.

Para colocar um ponto final na polêmica mantida com Dom Alexandre, escreveu o livro “Porque Maquinaria e Nunca Maquinário”.

Maria Isabel, a filha que deu continuidade aos estudos da Língua Portuguesa iniciados com seu pai, conta-nos que vários dos poemas do Professor Santino fizeram e continuam fazendo “curso na admiração de leitores de Uberaba e de todo o Brasil, pois as edições de seus livros se esgotaram rapidamente, solicitadas por livrarias de vários pontos do território nacional. Os seus livros de poemas ou de prosa são verdadeiras mensagens de um talento de escol, dirigidas a todos, especialmente aos que precisam de uma palavra de alento e de estímulo”.

Diversos contos de sua autoria foram premiados em concursos promovidos em São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba, destacando-se “Fome”, “As Calças do Defunto” e “Mr. Severaine”.

Santino Gomes de Mattos era funcionário público lotado no IBGE, chefe da Agência Modelo, cargo pelo qual se aposentou. Chegou a ser promovido, mas com a condição de se mudar de Uberaba. A única forma de evitar sua transferência, mesmo com acenos de rendimentos muito maiores, foi a de se candidatar para uma cadeira na Câmara Municipal de Uberaba. Nas eleições de 1962, mostrou seu prestígio ao ser eleito como o vereador mais votado.

Seu amor por Uberaba falou mais alto do que a majoração de seu salário.

Santino Gomes de Mattos faleceu em 14 de outubro de 1975, aos 67 anos de idade. Era casado com Ione Passaglia Gomes de Mattos, professora e escritora, e tiveram três filhos: Cleômenes, (falecido), Evandro (médico) e Maria Isabel, funcionária da ALMG e professora de Língua Portuguesa em Belo Horizonte.

Fica na memória de todos a imagem de um homem íntegro, um intelectual que contribuiu sobremaneira com a imprensa e a educação em Uberaba, que está intrinsicamente ligado à cultura da cidade e que deixou seu rastro de saudades em todas as entidades, imprensa, escolas e faculdades, por onde o grande Jornalista, Poeta, Prosador, Escritor e Mestre da Língua Portuguesa passou.

Fontes: Maria Isabel Gomes de Mattos e Uberaba em Fotos.

Gilberto Rezende

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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